que fosse. – Você tem filhos?
- Não – respondeu Eva, surpresa com o fato de a corretora ter-se referido a Brix
no presente. Lisa talvez não soubesse que ele tinha morrido. Talvez fosse para evitar
qualquer menção de morte em meio a uma visita informal e simpática. Eva se
colocou atrás da escrivaninha de Brix. O homem a vigiava. Ele continuou a fazer
isso quando Eva olhou a cesta de lixo. Não estava vazia. Aquilo ali era um cartão de
embarque?
Eva saiu da casa junto com o último casal. Os outros já tinham ido embora. Não
era imóvel para eles, o marido tinha dito baixinho à corretora.
Agora só restava Eva, sozinha com aquele homem. - Esqueci uma coisa lá em cima – disse Eva, quando a corretora ia fechar a porta à
chave. – Já volto.
Eva foi rápida. Subiu as escadas. Ouviu Lisa falar às suas costas; a corretora estava
ao celular. Eva entrou no estúdio de Brix. Em cima da escrivaninha, a carta de uma
seguradora. Um impresso do banco sobre uma reunião próxima. Os temas da
assembleia da associação de amigos de bairro. Gaveta superior: bloco de notas,
canetas caras, um exemplar de uma revista de caça e armas de fogo. Cesta de lixo:
um cartão de embarque. Eva o pegou e o examinou. Era da SAS. “Quando foi
mesmo que ele morreu?”, perguntou a si mesma, e colocou o cartão no bolso. Fazia
uma semana. Ou seja, Brix tinha acabado de voltar quando morreu. Estava em casa
havia poucas horas. Gaveta seguinte: as atas de uma reunião do conselho
administrativo de uma empresa da qual Eva nunca tinha ouvido falar. Uma foto de
Brix com Helena, de braços dados numa festa. A irmã parecia bêbada, alegre; nessa
foto, ficava evidente a semelhança entre os dois.
O telefone – tirou-o do gancho. A tecla de rechamada, a última ligação feita ou
recebida. Pressionou a tecla. O número apareceu no visor. Era do exterior, com um
código de país – 39.
Eva se inclinou um pouco para a frente e olhou pela janela. A corretora