A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

Eva levantou a vista. O homem parecia cansado. Passava as madrugadas no balcão
de venda de passagens no aeroporto.



  • Roma?

  • Roma – ele disse, e então repetiu com um sotaque italiano ainda mais cantante.

  • Roma, Roma. – Enquanto seus dedos dançavam no teclado, ele olhou para o
    relógio. – Primeiro voo daqui a trinta minutos. Vai ter que se apressar. Portão B12.


Tentou ser a primeira a embarcar no avião; a primeira a sentar. Dali podia vigiar
cada um dos passageiros que baixavam a cabeça e entravam, principalmente
homens e mulheres de negócios que, naquela manhã, precisavam comparecer a uma
reunião em Roma. Não o viu entre eles. Talvez um que tinha certa semelhança; mas
esse ia acompanhado de outros dois, e Eva os ouviu falar de Vespas e gatonas
italianas, um papo matinal inocente. De resto, via a expectativa nos olhares deles. É,
aquele homem e seus colegas viajavam para Roma para vender algum produto,
talvez para comprar tomate pelado ou sabem-se lá quantos milhares de toneladas de
massa de tomate para alguma cadeia de supermercados, e Eva via a alegria por
estarem longe de casa, longe dos filhos, das marmitas e da mulher. Uma noite em
Trastevere, ora.
Sentaram atrás dela. Um deles, quando se deixou cair no assento, agarrou-se com
força ao encosto da poltrona de Eva.



  • Quanto tempo vamos ter em Roma? – perguntou o homem.

  • Só vinte minutos antes do outro voo – foi a resposta, e depois começaram a
    discutir como chegariam a Tirana, na Albânia, se não conseguissem pegar aquele
    avião.
    Eva balançou negativamente a cabeça. “Nada de tirar conclusões sem fatos”,
    pensou. Como tinha ensinado o legista, só porque três homens embarcaram no
    avião para Roma não queria dizer que aquela fosse a destinação final. E, por mais

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