prisão onde me enfiaram.
- Lagerkvist?
- Sim?
- É tudo tão bonito! O sol ainda está batendo aqui, vindo dos arcos mais para o
alto do Coliseu. Estou sentada num bloco de mármore. Ouvi um dos guias dizer
que, no Fórum Romano, esses blocos eram as mesas de trabalho dos banqueiros e
dos que trabalhavam com câmbio. Ou, se você preferir, eram os pontos de
picaretagem financeira deles. E que, se esses caras quebravam, quebravam também o
bloco de mármore. Partiam ao meio, como quando Bruce Lee rachava tijolo ao
meio com aqueles golpes de mão. - Verdade?
- Verdade.
- Os romanos é que sabiam das coisas – disse Lagerkvist. – Hoje em dia, quando
um banco quebra, eles lhe dão mais dinheiro. Dinheiro do contribuinte. Dinheiro
que pegam sem pedir. - Atrás de mim, fica a colina que sobe até o Senado.
- O Senado ... – disse Lagerkvist, melancólico.
- E o Templo de Vesta está brilhando com o sol do fim de tarde.
- Não se esqueça: você está justamente onde começou a batalha.
- Batalha? Que batalha?
- A gente prefere o quê? Tirania ou democracia? Os romanos desfrutaram
séculos de democracia até Júlio César vir montado em seu cavalo e tomar o poder.
Você sabia que foi o nome César que deu origem à palavra cáiser ou kaiser? - Não.
- Pois é. Em latim, o c de Caesar se pronunciava como k. Vamos, diga.
- É mesmo, kaiser – disse Eva, e riu. Lagerkvist era o professor, sempre o
professor, o mestre, aquele que tem a vocação de estimular, de incitar. – Foi aqui
que tudo começou – ela disse, e se endireitou.