Distrito de Vesterbro, Copenhague – 14h30
Marcus sempre tivera um fraco por fitas plásticas adesivas. Isso talvez viesse dos
tempos de soldado destacado em países poeirentos, longe de mecânicos e outros
técnicos de manutenção; a fita funcionava com quase tudo – a grade de proteção
que tinha se soltado do farol no blindado de transporte de pessoal, a rachadura na
arma, o fundo da mochila. Assim, por que não usar com câmeras de segurança? Era
mais fácil e mais rápido fixar com fita adesiva do que com parafusos e buchas. Mais:
a fixação só precisava resistir algumas horas, no máximo uns dias. Aí, se Marcus não
se apressasse, Trane já teria achado Eva.
Primeira câmera: na Colbjørnsensgade. Não era uma rua que Marcus
frequentasse. Muito barulho, muita sujeira, muitas pessoas de vida truncada. Duas
delas discutiam em frente ao abrigo emergencial Reden. Duas mulheres
maltrapilhas, provavelmente viciadas em drogas, de pele pálida e corpo que parecia
um caniço que se quebra ao vento. Bustiês, minissaias de plástico vermelho, meias
arrastão, olhos sem vida. Prostitutas. Na mesma hora, Marcus sentiu por elas uma
compaixão profunda e instintiva. Por que precisava ser daquele jeito? Por que
precisava haver mulheres que escorriam pelos rasgos do tecido social a tal ponto?
Mulheres que tinham chegado ao fundo de um poço que a maioria das pessoas nem
desconfiava existir. Não era justo. Era algo em que todo o mundo, toda a sociedade