Distrito de Amager, Copenhague – 14h45
Eva parou e lançou um último olhar para a Amager Strandvej, a avenida costeira,
e a ponte que unia a Dinamarca à Suécia, antes de abrir o portão gradeado. Desceu
os degraus até um caminho de cascalho. Pensou: “O que estou fazendo aqui? Quem
estou indo ver?” Procurou o número 112, o endereço que Tine Pihl tinha passado
por intermédio de Lagerkvist. Provavelmente ali se ficava muito bem no verão, não
havia dúvida; mas agora, debaixo do sol de primavera, era como se tivessem
acendido as luzes numa danceteria às três da manhã.
- Com licença – disse Eva.
- Pois não? – Um sorriso largo, como se ninguém mais tivesse falado com aquela
mulher em vinte anos. - O número 112?
- É só seguir reto.
- Obrigada.
Eva continuou direto e não demorou a estar frente a frente com um chalezinho
dilapidado que um dia talvez tivesse sido azul-celeste. Olhou para trás. Seria
armadilha? Quem a ouviria gritar ali? De todo modo, deu os últimos passos até a
casa. Leu o nome na porta. “Rigmor”, tinham escrito diretamente na madeira, com
caligrafia impecável. Tomou fôlego e bateu três vezes. Passos lá dentro. A porta se
abriu. Quem a abriu foi uma fumante idosa. Tinha pele cinzenta que combinava
com o grisalho. Seria ela Rigmor? Eva, apesar de estar a um metro da porta,