A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1
Eva, ao passar em frente ao Teatro Real, enfiou as mãos nos bolsos para se

certificar de que tinha o mais importante – a impressão 3D do crânio de Christian
Brix. Através do pano do bolso, sentia contra a pele a borda do plástico duro.
Agora, só precisava descobrir o objeto homicida. A chave de tudo. Fazia frio.
Caminhou depressa pela Bredgade abaixo, passando pelas vitrines iluminadas das
lojas que vendiam as relíquias – móveis antigos e armaduras – dos tempos pelos
quais Brix tinha lutado. Tempos de absolutismo, com menos espaço para o
crescimento pessoal; mas tempos também mais sensatos, quando as pessoas não
elegiam indivíduos como Hitler. Eva refletiu: “E eu? O que penso disso?” E
concluiu: “Minha opinião não importa. A única coisa que preciso fazer é contar a
verdade. Quem deve tomar posição são os leitores”.



  • Eva?
    A voz era fraquinha e vinha de uma mulher que estava esperando a uns cinco ou
    seis metros do ponto combinado.

  • Sim.

  • Siga-me.
    A mulher subiu a gola, ocultando o próprio rosto. Eva a seguiu a certa distância,
    sem dizer nada. Nada de perguntas supérfluas, Rigmor tinha repetido várias vezes lá
    em sua casa. “Que contraste com os palácios”, pensou Eva, e ficou imaginando o
    que teria sido a vida de Rigmor. Uma vida de pernas para o ar. Um dia, nossa vida
    se desenrola em castelos; no outro, eles nos demitem, e vamos apodrecer numa
    casinha chinfrim, tendo por únicas companhias cigarros feitos à mão e uma garrafa
    de xerez barato. De certo modo, Eva não estranhava que as duas irmãs buscassem
    vingança, coisa quase impossível de conseguir contra aquela família tão poderosa.
    Durante uma hora, Rigmor tinha revisado com Eva a planta do Palácio Moltke, o
    lugar onde Brix fora visto pela última vez, o único palácio que estavam utilizando
    apenas para receber hóspedes e oferecer jantares.

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