Procurou com o olhar a mulher, que tinha se adiantado demais. Chegaram ao fim
da rua, passaram em silêncio junto às janelas escuras, dobraram a esquina e pararam.
Eva a alcançou.
- Você consegue ir no meu ritmo? – disse a mulher.
- Consigo, sim. Desculpe-me.
Passaram por alguns táxis; fora isso, as ruas estavam praticamente desertas. A
escuridão não fazia caso da esporádica iluminação pública. - É aqui – disse a mulher, talvez a irmã de Rigmor; Eva não tinha certeza. A única
coisa que sabia era que essa outra se dispunha a ajudá-la a entrar. Depois, Eva teria
de se virar sozinha.
Pela primeira vez, seus olhares se cruzaram. Foi só por um instante, mas Eva viu
alguma coisa naqueles olhos. O quê? Humilhação? Uma vida fracassada? Foi
somente então, debaixo de uma luz de rua, que Eva pôde ter ideia da aparência da
mulher. Tinha por volta de cinquenta anos e andava encolhida; lembrava um barco
a ponto de naufragar. Tentava evitar o olhar de Eva o tempo todo, como se
estivesse envergonhada. Era o mesmo olhar que Eva tinha visto no chalé. O olhar
de uma viciada, de uma dependente, mas de alguém que sabe que está mal. Qual
seria seu vício? Os que moravam nos palácios? Da mesma maneira que os
habitantes dos palácios dependiam das pessoas de fora, pois eram incapazes de se
virar sem o dinheiro dos contribuintes? Talvez a Santa Aliança consistisse
justamente nessa dependência mútua. A mulher não encarou Eva quando disse: - Christian Brix?
Eva assentiu e perguntou: - Você sabe de alguma coisa?
- Só que o Malte e a mãe estiveram aqui naquela noite, como a Rigmor já lhe
contou. Na noite da véspera da morte de Brix. O príncipe herdeiro e a mulher
estavam fora, e a dama de companhia teve que cuidar das crianças. Por isso, ficou
para dormir num dos quartos de hóspedes do Palácio Moltke. Sei também que