- David, não vamos discutir isso agora. Vou mandar um torpedo com o endereço.
Silêncio. Só o ruído da chuva no asfalto. - Não pretendo ir – disse David.
Marcus tinha enviado um torpedo a David só com o endereço. Nada mais,
nenhuma ameaça do que poderia acontecer se desobedecesse. Não queria chamar
Trane. Não adiantava nada envolver gente demais. Por mais que Trane fosse um
exemplo de soldado perfeito, costumava ser muito chato. Diferentemente de
David, enchia o saco.
Desligou o celular antes de voltar correndo à casa. Hans Peter Rosenkjær tinha
saído da poltrona em frente à TV. Quanto tempo ele havia ficado fora? Por sorte,
Hans Peter voltou com uma toalha de banho na mão. Ia tomar outro banho? Em
vez de sentar na sala, o velho se aproximou da porta da varanda e a abriu. Marcus se
afastou e se colou à fachada. Ouvia o velho, que, na varanda, murmurava ao mesmo
tempo que acendia o cachimbo:
- Que belo pé-d’água... Não dá para pegar a bicicleta – resmungou.
Marcus olhou para a rua. Estava perto demais de Hans Peter. Esgueirou-se pela
fachada, em direção à rua. No mesmo instante, ouviu as sirenes. Não estavam longe
e se aproximavam. Se o velho olhasse para a rua, veria um homem de preto pegado à
fachada do chalé.
Afastou-se da casa às pressas. Passaram duas radiopatrulhas e uma ambulância na
direção da floresta, no fim da rua, por onde Marcus tinha chegado aquela manhã
mesmo, seguindo o velho. Tinham encontrado o corpo. Pegou o caminho da rua para
se distanciar um pouco da casa, na eventualidade de Hans Peter também dar uma
espiada para acompanhar os acontecimentos. Observou como o pessoal da
ambulância preparava a maca sem pressa nenhuma. O mau tempo era uma bênção
para Marcus e David. Para a polícia, seria impossível recolher pegadas na cena do