crime. As botas pisoteariam a terra e, num piscar de olhos, as folhas murchas no
chão da floresta virariam lamaçal; todas as pegadas desapareceriam num barreiro de
primavera. Restava apenas uma pista, uma ponta solta: Hans Peter Rosenkjær.
Os clarões azuis iluminaram fugazmente as gotas de chuva. Logo os vizinhos
desafiariam o mau tempo e dariam as caras. As crianças viriam, assim como o furgão
da TV2 News. Em menos de trinta minutos, a primeira reportagem apareceria nas
telas. Marcus olhou para o chalé. Refletiu que a polícia não teria tempo de
interrogar os vizinhos naquela noite, mas que, se Hans Peter assistisse à TV e falasse
com algum vizinho ou filho por telefone... “É, eu vi. Vi também um homem
esquisito, hoje de manhã mesmo, na mata.” Alguma coisa assim; não precisaria de
muito mais.
Voltou à casa. As primeiras crianças, com capa de chuva, tinham começado a
chegar. Precisava agir de imediato. Pôs a cabeça depois da quina do chalé, com
muita cautela, e deu uma olhada na sala. Hans Peter passeava pelo cômodo. Estava
prestes a morrer. Marcus repassou as possibilidades. Continuava tendo que tirar a
roupa e os sapatos; do contrário, deixaria pistas demais. E como procederia?
Asfixiá-lo sem o travesseiro marcaria o pescoço. Quem sabe algum objeto
contundente? Depois poderia arrastar o velho para o banheiro e bater a cabeça dele
outra vez, agora contra o piso, deixando correr a água do chuveiro. Talvez fosse
preferível que Hans Peter estivesse dormindo, mas já não havia tempo. Precisava
agir o quanto antes. Olhou a sala uma última vez, enquanto se preparava
mentalmente. Para seu horror, viu o velho no centro do cômodo, já de capa de
chuva. Talvez Hans Peter estivesse prestes a sair ao encontro da polícia, só para ver
o que estava acontecendo, com a mesma curiosidade que as crianças. E falaria;
contaria o que tinha visto. Por isso, Marcus tinha de fazer naquela hora mesmo.
Os pensamentos lhe martelavam a cabeça. Como fazer? Deveria bater à porta,