causa da escuridão e da fumaça, Eva tinha muita dificuldade para enxergar. Seus
olhos ardiam. A mulher agitou os braços e gritou alguma coisa – que se acalmassem
e saíssem do prédio, que se juntassem na rua, que os bombeiros já tinham sido
chamados. Depois gritou algo mais. Perguntou se estavam todas ali. Precisou
desistir porque não conseguia fazer-se ouvir naquele caos, e o segurança tomou a
palavra, com sua voz grave e profunda, tonitruante; mas a voz dele não era mais
fácil de ouvir que a de Liv.
- Ficou alguém nos quartos? Alguém continua dormindo?
Algumas mulheres responderam, aos gritos e ao mesmo tempo. O segurança se
inclinou para Liv e lhe berrou alguma coisa ao ouvido. Algo na linha de que talvez
fossem apenas bombas de fumaça, mas que ele não podia garantir isso. Eva ouviu
sirenes ao longe. Aproximavam-se. Seguiu as outras até a porta, até o lado de fora,
até a noite, até a rua escura. - Por aqui – disse Liv, e gesticulou com os braços. – Saiam por aqui.
E lá estava a escuridão, o que fez Eva parar. Ou foi a mesma sensação que tinha
feito Eva acordar havia pouco? Era como um dedo invisível que viesse cutucá-la no
ombro. Eva já tinha chegado à porta. Estava naquele pequeno saguão onde se
empilhavam as caixas de frutas. As outras mulheres, desesperadas, empurravam Eva
e abriam caminho a cotoveladas; queriam sair o quanto antes e ficar a salvo.
Um apagão repentino.
Como aquela noite no hotel.
Fogo no porão. A rua às escuras, pânico e caos. De repente, entendeu tudo; de
repente, tudo se encaixou e se tornou uma longa concatenação de ideias com
começo, meio e fim – tudo aquilo ali dizia respeito a Eva. Mas estava claro! Por que
não tinha concluído antes? O apagão; o pânico; a fumaça densa e escura, causada
fosse por incêndio, fosse por bomba; mulheres que se viam fugindo para fora,
entrando numa escuridão cerrada. O motivo era Eva. Era o plano deles, a maneira
de fazê-la sair para onde não estaria protegida, e que melhor modo de desentocar as