- Mas eu sei – disse Martin, e acrescentou: – Amanhã, quando pegarmos o carro
para ir embora, não vai levar nem dez minutos até ela me ligar para perguntar se
você gostou dela. Dez minutos? Acho que até menos.
Talvez Martin tivesse razão naquele dia no mar do Norte; entretanto, por mais
que Eva fingisse se interessar pelos pais dele, de uma coisa tinha certeza: para Inge,
aquilo era uma luta por Martin; uma guerra para saber quem o amava mais e, ao fim
e ao cabo, para saber a quem ele devia lealdade, se a Eva ou a Inge. Inge venceu a
guerra; para Eva, isso ficou dolorosamente claro. A julgar por todos os parâmetros
mensuráveis, Eva perdeu. Estava sozinha, desprotegida; era tudo o que sempre
temera ser. Se porventura lhe ocorria pôr isso em dúvida, só precisava perguntar à
psicóloga ou voltar para casa com seu vinho barato, na bagunçada residência em
Hareskoven, sem internet e de péssima construção e acabamento. - Toc-toc! – disse Anna, e pôs a cabeça pela porta. Eva levantou os olhos. – O
Torben me pediu para lhe dizer que vocês resolvem a papelada mais tarde e que ele
se desculpa pelo mau jeito.
Depois de uma hora e meia de trabalho na cozinha, Sally achou que Eva deveria
descansar um pouco.
- Mas e você? – perguntou Eva.
- Você sai e curte um pouco de sol – respondeu Sally.
Eva lançou um olhar ao parquinho. Procurava Malte. “Onde é que ele está?”,
pensou. Eram crianças demais; não via o menino em lugar nenhum. Talvez ainda
não tivesse descido para o parquinho, mas em algum lugar havia de estar.
O sol a ofuscou. Arrependeu-se de não ter colocado os óculos escuros e estava
suando, mas não queria tirar o suéter de lã, porque achava muito justinho e
provocante o top que usava por baixo. De repente, viu Malte. Estava sentado na
gangorra, de lado, revolvendo a areia com os pés, inquieto. Traçava pequenos