esquecido um menino lá.
- Que horror! – exclamou Eva, com toda a sinceridade. Endireitou-se. No fim
das contas, talvez valesse a pena ouvir a história de Kamilla. – Foi o Malte? - O Malte?! Mas se ele está com os mais velhos! – Kamilla olhou para Eva como
se esta fosse uma completa idiota. – Era um bebê das turmas de novinhos. De um
ano e dez meses. Bem, o fato é que voltaram lá e o acharam. Tinha chorado, mas de
resto estava bem. - Quanto tempo ficou sozinho?
- Só uma hora e meia. Quando voltaram para a creche, resolveram... junto com
Torben... – apressou-se a acrescentar. - Não contar nada – disse Eva.
- Exatamente. Nem aos pais, nem ao resto do pessoal.
- Mas, então, como é que você sabe de tudo? Você esteve lá?
- Lá?
- Na floresta.
- Sou professora. Eu sei porque minha amiga me contou. Ela é que esteve. E,
desde então, a coitada está de licença. - O mais importante é que não aconteceu nada – disse Eva.
- Não. O mais importante é que não torne a acontecer – disse Kamilla,
grandiloquente. - Sim, claro. Mas você não acha que já aprenderam a lição?
- Ou seja, você acha certo não dizerem nada?
- Não sei. Se contassem, não há dúvida de que muitos pais achariam difícil deixar
os filhos aqui. Seria o fim da instituição. Além disso, os pais do menino... Não sei o
que dizer, Kamilla. Sim e não. Afinal, não sou perita nessas coisas. - Mas de uma coisa você sabe: quando é preciso falar e quando é preciso não dizer
nada.
Eva refletiu. Será que sabia mesmo?