Hauser Plads, centro de Copenhague – 15h50
Eva o viu antes que ele a tivesse visto. Usava roupa demais para a estação e, ainda
assim, parecia tremer de frio. Em todo caso, tremia. Quantos anos devia ter? Talvez
trinta e poucos. O cabelo preto e seboso caía em mechas até os ombros. Usava
óculos de armação redonda. Será que o tinha visto antes, ali, em frente ao
consultório? Ele levou um susto e encarou Eva. Ela desviou o olhar, dirigiu-se o
mais rápido possível para o consultório e tocou a campainha. “Centro de
Psicologia”, dizia o letreiro. Pelo reflexo no vidro da porta, viu que o homem se
levantava na outra calçada da praça, olhava para as costas dela e vinha em sua
direção. Eva tornou a tocar a campainha. O homem estava prestes a atravessar a
rua. Um carro se interpôs entre os dois. A porta se abriu, e Eva se apressou a fechá-
la atrás de si.
Começava a ficar muito familiarizada com a sala de espera. “Talvez este aqui seja
o recinto que conheço melhor, com mais detalhes, dentre todos onde já estive.” Foi
isso o que pensou. Fazia quase meio ano que sentava ali uma vez por semana, e
sempre chegava um pouco antes, por medo de se atrasar, por medo de perder
alguma coisa, uns minutos que fossem, de seu tempo em companhia de Henriette
Møller. Sentava lá para esperar junto com outros homens e mulheres, quase todos
já um tanto maduros. Só numa ocasião tinha visto uma mulher de vinte e tantos, e