Adega - Edição 166 (2019-08)

(Antfer) #1

Edição 166 >> ADEGA 17


Para
mim,
tradição, às
vezes é uma
desculpa para
algo que não
está perfeito,
ou que não é
bom ou
ótimo

um certo nível de preço, especialmente quan-
do você é o nicho do nicho. Mas sempre tive-
mos nossos consumidores. Tem muita gente
dizendo, vinho doce é isso [apenas essa fatia
de mercado]. Não é verdade e somos o me-
lhor exemplo. Crescemos 30% nos últimos
10 anos e ainda estamos crescendo. Então al-
guém está comprando. Há um mercado, com
certeza. É algo muito especial, único, mas é
como todas as coisas fantásticas do mundo,
não é para todo dia.

Vocês também produzem brancos, tintos. Quanto cada
tipo de vinho representa para Kracher?
Por volume, cerca de 70% é de vinhos doces.
Por lucro, mais de 90%. Economicamente fa-
lando, os vinhos doces são os mais importan-
tes. Os espumantes são 1%, é meu hobby. Os
tranquilos têm alguma relevância. Mas tam-
bém tenho projetos fora, como um baseado
em Grüner Veltliner, com meu melhor ami-
go Aldo Sohm, que foi campeão mundial de
sommelier. Começamos em 2009, quando ele
voltou de uma viagem para a Argentina e dis-
se: “Sou sommelier e estou sempre criticando,
mas nunca fiz um vinho, quero saber como
é, podemos fazer um vinho juntos?” Fizemos
uma barrica. E se tornou uma empresa, que
faz quatro vinhos de Grüner.


Por que Grüner?
Porque ambos amamos Grüner. Na época, as
pessoas disseram que nosso vinho não parecia
um Grüner tradicional. Quando ouvi isso pela
primeira vez, não fiquei bravo, mas feliz, pois
somos muito mente aberta e, para mim, tra-
dição, às vezes é uma desculpa para algo que
não está perfeito, ou que não é bom ou ótimo.

Por que investiu em espumantes?
Foi algo que veio à minha mente 15 anos atrás.
Achei que era mais fácil, apenas ter um bom
vinho base, bolhas, dégorgement, e é isso...
Não! Começa no vinhedo também. Levou 10
anos para encontrar o equilíbrio que queria.
Para os vinhos doces, ainda há muita pesquisa
também. Ainda não chegamos ao ponto. Cada
safra é diferente, cada vez se aprende algo dife-
rente. Cada vez que você pensa: “Achei a cha-
ve, não erro mais”, a natureza lhe diz que está
errado. Com uma nova safra, tudo é diferente.

Tem vinhos na Transilvânia?
Comecei esse projeto em 2015. Mesmo que
Trump diga que não há aquecimento global,
há. Antigamente, fazíamos icewine em oito de
cada 10 safras – mesmo que isso não fosse meu
principal objetivo. Mas em um determinado
momento, vimos que não podíamos fazer.

“Vivo em uma área em que a botrytis aparece
todos os anos. Desde 1959 nunca houve uma
safra em que não fizemos vinho doce e também
nunca houve uma que não tenha ido ao nível
mais alto de TBA. Isso é único. Nenhuma
outra área no mundo pode dizer isso. Temos o
microclima perfeito”
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