História em Foco - Edição 09 (2019-08)

(Antfer) #1

Inúmeros textos dos primeiros


séculos do Cristianismo
tentaram mostrar ao mundo


a verdade sobre Jesus, mas
foram banidos pela Igreja e


perdidos pelo tempo


Texto Nathália Piccoli/Colaboradora
Design Adriana Oshiro

Fotos:

iStock.com/Getty Images e Shutterstock Images

Bíblia alternativa
O critério utilizado para determinar
qual livro entraria e qual não era virtuoso
o suficiente para estar na obra conside-
rada “O livro dos livros” se explica pelos
diferentes tipos de Cristianismo que cada
Igreja defende e acredita, além da forma
que a interpreta.
A Bíblia católica reúne 73 livros, sendo
46 no Antigo Testamento e 27 no Novo.
Já a Bíblia usada pelas igrejas protestantes
possui 66, reconhecendo como legítimos
apenas 39 do Antigo Testamento. Por sua
vez, os ortodoxos seguem a reunião de
76 livros. Além disso, há diferenças entre
fragmentos incluídos e excluídos por cada
uma delas, bem como a ordem e o nome
de alguns livros.
As divergências existem claramente em
relação ao Antigo Testamento. São reco-
nhecidos 27 livros do Novo Testamento
por todas as autoridades eclesiásticas, entre
eles os evangelhos considerados mais im-
portantes – Mateus, Marcos, Lucas e João.
Esses, chamados de “canônicos”.

A escolha
Com a expansão e a força do Cristianis-
mo, no ano de 325, Constantino, o então
imperador de Roma, precisou apoiar a
religião para manter seu império sólido.
Com o intuito de criar normas dentro
da Igreja, um meio de controle e unifica-
ção da fé cristã, ele convocou bispos para
decidir quais livros seriam oficiais, sendo
escolhidas, assim, quais escrituras iriam
compor a Bíblia Sagrada. A reunião ficou
conhecida, historicamente, como Primeiro
Concílio de Niceia.
Ao longo do tempo espalharam-se pelo
menos três versões diferentes sobre a es-
colha divina dos livros. A primeira delas
afirma que, durante a reunião, os evange-
lhos foram colocados diante de um altar,
e os quatro livros que foram considerados
inspirados por Deus voaram sozinhos

para o altar. Já a segunda afirma que os
livros foram colocados sobre o altar e os
que tinham origem sagrada foram caindo
ao chão, um a um, até ficarem apenas os
quatros escolhidos. Por último, a terceira
versão conta que o Espírito Santo, na
forma de uma pomba, entrou no palácio
que sediava o Concílio, pousou no ombro
de cada um dos bispos que lá se reuniam e
os revelou ao pé do ouvido quais seriam os
quatro evangelhos. Para os estudiosos dos
textos bíblicos, essas versões não passam
de fantasias. Há um consenso entre eles
de que a escolha não foi feita por acaso.

Os apócrifos
Embora os apócrifos tenham sido ba-
nidos, a importância desses materiais é
inquestionável, tanto pelo viés histórico
como teológico do assunto. Justificado
ou não, seu desaparecimento poderia ter
apagado uma parte essencial da história
das religiões.
Na percepção científica, canônicos e
apócrifos têm o mesmo valor para a com-
preensão das crenças e práticas dos cristãos,
da mesma maneira que para a preservação
de memórias e tradições. A respeito disso,
a Igreja reconhece que nem todos os textos
apócrifos são blasfemos, e a influência dessa
conteúdo está vinculada à tradição popular,
como os nomes dos pais de Maria que não
aparecem nos textos canônicos, bem como
os dos três reis magos – todos personagens
conhecidos entre os cristãos. É curioso
notar que, no calendário da Igreja Católica,
é comemorado os dias de Santa Ana e São
Joaquim, cujos nomes não foram citados
nos textos canônicos.
Grande parte desses livros se perdeu com
o passar do tempo. No entanto, diversos
deles são sagrados em outras vertentes do
Cristianismo. Aos que temos acesso nos
dias atuais, destacam-se: Evangelho de
Filipe, Tomé, Tiago, Pedro, Judas e Maria
Madalena.
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