Divã
A popular imagem de um paciente deitado no divã de costas para o analista existe
por conta do consultório de Freud. O cientista notou que as pessoas se sentiam mais
confortáveis e abertas para a conversa ao se deitarem. “O divã seria o momento em que
o olhar se desliga da fala. Ao repousar, o indivíduo fica sentado por detrás, cessando o
contato visual. Dessa forma, o consciente sai de cena, dando lugar ao inconsciente. Vale
ressaltar que nem sempre essa posição deixa o paciente à vontade, e isto precisa
ser respeitado pelo analista”, complementa a psicanalista Claudia Brazil.
coNSULtoriAS camila
Morais, psicanalista;
claudia brazil, psicanalista
clínica e coordenadora
do instituto amas de
Psicanálise e Terapias, em
fortaleza (cE); Júlia bárány,
psicanalista formada pela
Sociedade brasileira de
Psicanálise integrativa e
diretora editorial e tradutora
na barany Editora; Virgínia
ferreira, psicóloga e
psicanalista, professora da
faculdade de Medicina de
Petrópolis e do curso de
psicologia da faculdade
arthur Sá Earp Neto, no rio
de Janeiro.
FoNte a interpretação dos
sonhos, Sigmund freud,
livro publicado em 1900.
prática clínica
Tendo em vista o cenário teórico traçado
pela psicanálise, pode-se questionar: como esses
conceitos e estudos auxiliam os pacientes? De
acordo com Claudia Brazil, normalmente, quando
o paciente busca um especialista, já se encontra
em uma condição de somatização, ou seja, com
ansiedade, depressão ou outros transtornos. Em
um primeiro momento, esse sujeito é acolhido
e recebe explicações sobre como as sessões
podem ocorrer. “Para a psicanálise, no entanto,
o sintoma não é o principal, pois buscamos a
causa, isto é, o material do inconsciente”, relata
a profissional.
Sendo assim, de forma geral, o trabalho psi-
canalítico procura pelas raízes das manifestações
emocionais ou físicas que prejudicam o indivíduo
investigando aquela parte da mente ainda não
acessada. A técnica mais utilizada para esse pro-
pósito é a livre associação de ideias, abordagem
norteada pelo princípio da cura pela fala.
O paciente é estimulado a colocar em palavras
quaisquer pensamentos que passem pela sua
cabeça, sem censuras ou julgamentos, mesmo
que as frases e histórias formuladas não tenham
conexão aparente ou sentido imediato. “O
método não pressiona a busca por lembranças
específicas e tampouco induz o controle ou a
seleção do raciocínio. A estratégia, na verdade,
abre caminhos para que o indivíduo possa fazer
cadeias associativas e acessar os conteúdos mais
profundos de sua mente”, explica Camila Moraes.
Analisando e analisado
A imagem do indivíduo deitado e do psicanalista
atrás dele, fora de seu campo de visão, é a mais
comum – e é baseada na realidade. A postura
do próprio Freud nas sessões demonstrava tal
distância – suas anotações e atenção aos mínimos
detalhes eram extensas. O objetivo dessa dispo-
sição é que o sujeito de sinta confortável, sem
o olhar de outra pessoa, para falar livremente
e trazer à tona os elementos inconscientes. No
entanto, caso o paciente não se sinta melhor dessa
forma, as adaptações são realizadas de acordo
com cada caso.
Conforme relata Camila, o analista não ocupa
papel neutro ou de um ouvinte passivo, visto
que se mantém atento durante toda a sessão e
faz apontamentos para quebrar ou diminuir as
resistências – as quais impedem que o contato
com as questões que lhe fazem sofrer, para além
daquilo que ele mesmo consegue perceber de
forma superficial.
Claudia Brazil completa a presença de um
conceito importante: a relação do analisado com
o analista é pautada no fenômeno que Freud
chamou de transferência. “Isto ocorre quando
o paciente transfere ao psicanalista uma figura
familiar (geralmente paterna ou materna), ou
mesmo alguém que teve um papel importante.
O processo transferencial pode ser positivo ou
negativo, ou seja, uma relação de amor ou ódio,
ou mesmo intercalando entre os dois. Sem trans-
ferência, não existe análise”, finaliza.
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