Leitura & Conhecimento - Ano 2 Número 05 (2019-07)

(Antfer) #1
Melanie teve com Sigmund Freud, por meio de sua obra A Interpretação dos
Sonhos. Nessa mesma época, deprimida, deu início à análise com Sándor
Ferenczi (saiba mais a partir da página 14).
Foi assim que teve contato e se tornou membra da Sociedade Psicana-
lítica de Budapeste. Durante o 5º Congresso Internacional de Psicanálise,
que aconteceu na cidade em que morava, conheceu o neurologista austrí-
aco. “Era a primeira vez que Melanie Klein via Freud. Escutou-o ler, na
tribuna, sua comunicação, Os novos caminhos da terapêutica psicanalítica, e,
fortemente impressionada, tomou consciência de seu desejo de se consagrar
à psicanálise. Em julho de 1919, levada por Ferenczi, apresentou, diante
da Sociedade Psicanalítica de Budapeste, seu primeiro estudo de caso,
dedicado à análise de uma criança de cinco anos, que na realidade era o
seu próprio filho Erich”, relata o livro Dicionário de Psicanálise.

início e enfrentamentos
A partir desse primeiro momento, Klein não se desligou mais das inves-
tigações que envolviam a mente humana. Teve contato com outros nomes
importantes da área e chegou a entrar em conflito com Anna Freud devido às
abordagens distintas que as duas adotavam com relação ao estudo da infância.
Para Anna, a psicanálise aplicada às crianças era um aprimoramento
da pedagogia; já Melanie via nessa intervenção a chance de observar os
processos psíquicos dos pequenos. “As técnicas e os conceitos de Klein
são bastante usados e comentados, porque Melanie, podemos assim dizer,
complementou a teoria freudiana mostrando mais eficácia no tratamento
Imagem: Wikimedia Commonsdas neuroses infantis”, avalia a psicanalista Claudia Brazil.


Depois de passar um período em Berlim, estabe-
leceu-se na Inglaterra. “Sua instalação em Londres
marcou efetivamente a abertura das hostilidades
entre a escola vienense e a escola inglesa: quaisquer
que fossem os esforços para convencê-lo de que as
teses kleinianas se inscreviam na lógica das suas,
Freud, desejando apoiar Anna, manifestaria um
descontentamento crescente”, descrevem Elisabeth
Roudinesco e Michel Plon. Sendo assim, apesar
de se apoiar nas teorias freudianas, a psicanalista
precisou enfrentar a resistência do próprio Sigmund.

Brincadeiras inconscientes
Claudia explica que Melanie foi muito fiel à teoria
freudiana do inconsciente, porém observou que sua
manifestação na clínica, para o adulto, acontece pela
fala, enquanto, com as crianças, é possibilitada por
meio do brincar. “O monitoramento dessa dinâmica,
juntamente com a escuta, deverá ser realizado com
o encadeamento subjetivo e transferencial entre
criança e analista”, acrescenta a especialista. Sendo
assim, se as pessoas mais maduras conseguiam se
expressar verbalmente, as brincadeiras, de acordo
com a pensadora, seriam uma forma de estabelecer
contato e interpretar os conteúdos mais profundos
da mente durante a infância – princípio utilizado
até os dias de hoje com esse público.
Embora a aplicação dos momentos lúdicos
para o uso da psicanálise tenha dado origem a um
método revolucionário e pioneiro sobre o incons-
ciente infantil, outras ideias de Klein sacudiram
a comunidade científica. A austríaca inovou ao
afirmar que, desde o nascimento, a relação entre
mãe e bebê pode gerar na criança sentimentos de
inveja, ciúme, angústia e destruição.
De acordo com Claudia, existe a posição esquizo-
paranoide da criança, a qual é manifestada no período
em que o pequeno começa a ter consciência de que
o seio não é parte dele, e que, em alguns momentos,
seu objeto de desejo pode se ausentar. “Dessa forma,
faz-se uma clivagem, dividindo o seio bom (seio pre-
sente) do seio mal (seio ausente). Após o desmame, o
bebê quer recuperar essa fonte de satisfação (inveja do
seio)”, esclarece Claudia sobre alguns dos principais
conceitos cunhados por Klein. Em tal fase, existem
as pulsões de destruição, as quais se caracterizam
como uma forma de defesa da criança.
Nesse sentido, ainda há uma posição depressiva
quando tem início a separação do pequeno indivíduo
da figura materna. “Isso acontece quando, aos seis
meses, o bebê começa a ver a sua mãe como um
ser em sua totalidade, não mais por suas partes
(seios, mãos, rosto)”, completa a psicanalista.

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