LEITURAS EDUCADORAS
Podemos aprender e
ensinar observando nossos
dedos, mãos, cabeça, pés:
somos um livro a ser lido
| GABRIEL PERISSÉ
O
personagem do livro Diário de um corpo, do
escritor francês Daniel Pennac, observa-se
ao longo de toda a sua vida, criando uma
anatomia literária do corpo humano.
A sua vida corpórea encontra-se no cen-
tro de tudo: reações e descobertas, surpre-
sas e rotinas, dor e prazer, beleza e esca-
tologia. Trata-se de um diário íntimo, mas
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sões do eu”. O corpo é o de um homem que viverá até os
87 anos de idade e que registra a memória e a consciên-
cia de ter/ser um corpo. Os registros partem da infân-
cia e chegam aos últimos momentos de vida.
Na penúltima página do Diário, o narrador, faltando
um mês para a sua morte, escreve:
86 anos, 11 meses e 1 dia
Sábado, 11 de setembro de 2010
Ao fazer comentários para Lison neste diário, salta-me
aos olhos o quanto eu deixei de registrar aqui.
Querendo dizer tudo, disse tão pouco! Mal cheguei a
roçar este corpo que eu queria descrever.
As descrições de Pennac revelam com realismo o
estado de espírito do corpo nas diferentes e sempre
concretas situações vitais. E esta contínua sensação
de que nunca esgotamos o assunto.
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sobre nós mesmos, percebendo duas realidades pes-
soais na mesma realidade da pessoa. Pennac faz o
personagem olhar-se no espelho, observar-se no diá-
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O CORPO ENSINA
O corpo é uma pedagogia a ser lida, entendida e
praticada.
O corpo não apenas fala, mas sobretudo nos ensina
quando se dispõe a nos fazer perguntas.
O adoecimento do corpo formula a pergunta: “o
que você está fazendo de errado ou permitindo que
se faça de errado com você para que esta doença
aconteça? ”. Os médicos precisam redescobrir que o
corpo é o melhor livro para estudar o corpo.
Outras perguntas o corpo faz. Basta um pouco de
silêncio para ouvi-las: “gosta de aprender?”, “como
está sua ‘taxa de esperança’?”, “que atitudes novas
UMA PEDAGOGIA DO