O PNLD pode funcionar como uma engrena-
gem muito bem azeitada, mas o combustível que
move o motor anda em falta no país inteiro: di-
nheiro. O Programa Nacional do Livro e do Ma-
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que se abate sobre o país há quatro anos.
“Desde a sua implantação, o valor recebido
pelas editoras no PNLD não acompanhou a in-
flação geral e, menos ainda, a do setor”, afirma
Polletti. “Associado a isso, o contínuo e alto in-
vestimento em produtos e equipes pressiona o
setor, aumentando a concentração”, acrescen-
ta o diretor editorial da Editora do Brasil. Em
um programa que, por natureza, já dificulta a
participação de empresas menores, isso pode
ser preocupante. “Basta verificar que no come-
ço dos anos 90, as editoras participantes eram
cerca de 15”, exemplifica. “Hoje, estão perto de
cinco casas editoriais.”
Para Silvana Júlio, há outros agravantes. “A com-
plexidade do PNLD tem, a cada programa, se tor-
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junta de didáticos e PNLD da FTD Educação, que
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dos materiais, a abrangência e profundidade dos
recursos e mesmo a enorme estrutura e capilari-
dade para a distribuição e logística em todo o país
- sem contar o grande investimento e um risco de
participações com margens que podem ser até ne-
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efetiva das editoras, em especial as com menor
capacidade de investimento, principalmente em
momentos de crise econômica.”
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período em que o programa começou a se consolidar.
O PNLD 2020 é uma prova de que os cães ladram,
mas a caravana passa. Divulgados no final de junho,
os resultados do programa confirmam isso. Nenhum
autor ou editora teve sua obra reprovada por con-
ta de questões como a ditadura, o que resultaria em
injustos prejuízos milionários para quem tinha feito
tudo conforme o figurino. O figurino, no caso, é a
Base Nacional Comum Curricular, a BNCC: um do-
cumento destinado a nortear o conteúdo do que é
ensinado nas escolas brasileiras, com diretrizes ge-
rais, assim como a Constituição – que, não por aca-
so, é um dos pilares desse texto, construído com uma
maciça participação da sociedade.
Em tese, o arcabouço que sustenta os elementos
fundamentais da educação brasileira está tão bem
fundamentado que dá segurança a todos os partici-
pantes do programa sobre o conteúdo didático das
obras. Mesmo assim, há medo – palavra que não rima
com educação. “O autor sente um risco bastante am-
pliado de ver seu trabalho excluído por leituras ideo-
lógicas ou atos de censura, despertados por uma ou
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Grangeiro, da Abrale. “A instabilidade política e social
que nos cerca ajuda bastante a compreender a escolha
de autocensura por alguns autores.”
As editoras são reticentes, misturando receio com
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frem críticas e elogios, independentemente de seu
posicionamento”, minimiza Polletti. “Em momentos
como este, de novo governo, é importante reforçar
que o processo educacional requer continuidade em
muitas ações, e a importância do PNLD está sendo
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precisa ser abrangente, disponibilizando a professo-
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diferentes assuntos e diferentes pontos de vista sobre
esses mesmos assuntos”, acrescenta. “A BNCC hoje é a
maior referência para isso.”
“A história brasileira sempre foi polarizada e se exem-
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bém minimiza Silvana, da FTD. “O Brasil vive um mo-
mento econômico, político e social no qual o contexto
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campos de atuação”, acrescenta, frisando que a educa-
ção também é alvo diário de questionamentos ideoló-
O preço da crise
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baseados em vários documentos que lhe dão sustenta-
ção. Mesmo assim, um temor subjaz. “O agravamento
desse contexto — contrapõe Silvana — parece acirra-
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chando a qualquer opinião diferente da que acreditam
ser a mais adequada.” Do Oiapoque ao Chuí.
CAPA