Grandes Ditadores da História - Hitler & Stalin - Edição 01 (2019-08)

(Antfer) #1

do czar fazia por merecer o ódio en-
gendrado pela população e pelos que
acreditavam na revolução para der-
rubá-lo. Um desses grupos, os narod-
niks, pregava a rebeldia em forma de
atos terroristas contra autoridades,
como foi o caso do assassinato do
czar Alexandre II, em 1881. Não en-
fraqueceu o czarismo, mas deu desta-
que internacional ao movimento.
Eric Hobsbawm, falando sobre o
império russo em fins do século 19,
em seu “A Era dos Impérios” (Paz e
Terra, 1988) afirmou: “Se havia um
Estado onde se acreditava que a re-
volução fosse não só desejável como
inevitável, era o império dos cza-
res. Gigantesco, pesado e ineficiente,
econômica e tecnologicamente atra-
sado, com 126 milhões de habitan-
tes (1897), 80% de camponeses e 1%
de nobreza hereditária, ele era orga-
nizado de uma forma que todos os
europeus instruídos consideravam
francamente pré-histórica no fim do
século 19: a autocracia burocrática.
(...) Como havia a consciência quase
universal da necessidade de um tipo
ou outro de mudança, praticamente
todos eram obrigados a ser revolu-
cionários. A única indagação era de
que tipo”.
No alvorecer do século 20, eram
os marxistas que tinham maior nú-
mero de adeptos e que pareciam mais
próximos de uma vitória contra a au-
tocracia czarista. Sua base de pensa-
mento estava montada sobre o pro-
letariado urbano industrial, o verda-
deiro protagonista da derrubada do
sistema capitalista e da implantação
do socialismo. Para tanto, seguiam o
ideário marxista – era preciso flores-
cer o capitalismo na Rússia para, só
assim, provir o socialismo.
O movimento marxista acabou se
unindo em torno de um partido, o Partido Operário So-
cial-Democrata, fundado em 1898. Após ser expulso do
seminário, Stalin passou a dar aulas particulares e arru-
mou um emprego no Observatório de Tbilissis, o que o
ajudou a mascarar suas atividades clandestinas de doutri-
nador de operários. Foi trabalhando no observatório que
organizou seu primeiro grande levante: as comemorações


na cidade do 1o de Maio de 1900.
Conseguiu unir algumas centenas
de manifestantes com bandeiras ver-
melhas e retratos de Karl Marx fora
da cidade, quando fez seu primeiro
discurso público. De fato era uma
vitória num tempo em que qualquer
forma de desobediência era punida
severamente.
Mais importante ainda, e decisi-
vo para sua vida, foi o ano de 1901.
Em março, ele e alguns “camaradas”
organizaram uma greve de ferroviá-
rios com manifestação no centro
da cidade, numa provocação dire-
ta à Okhrana, a polícia política do
czar, que respondeu com violência,
deixando como saldo do evento 14
feridos e 15 presos. O jornal clan-
destino “Iskra” (Faísca), que se tor-
nou o centro dos revolucionários
com a consolidação do partido no
início do novo século, apontara em
edição seguinte o fato de que “aque-
le dia marcou o início de um movi-
mento abertamente revolucionário
no Cáucaso”.
Stalin preparava as manifesta-
ções do 1o de Maio daquele ano
quando chegou a Tbilissi um en-
viado de Lênin que muito o im-
pressionou – Victor Kurnatovski.
Ele seria um dos motivadores de
Stalin para ingressar no partido
em novembro de 1901. Kurnato-
vski e outros cabeças do movimen-
to foram presos antes das manifes-
tações, e, na ocasião, a polícia des-
cobriu o “disfarce” do observatório.
Desmascarado, Stalin só pôde fu-
gir e se entregar inteiramente para
o movimento ilegal e clandesti-
no. Sua vida a partir dali seria to-
talmente dedicada ao movimen-
to e ao partido. Seu nome real se-
ria deixado de lado e ele passaria
a usar codinomes e passaportes falsos. Trabalho? Ape-
nas o ligado à revolução, à causa socialista. Como es-
creveu Deutscher, “a decisão de tomar este caminho era
um voto de pobreza informal, que, num certo sentido,
concluía o noviciado no socialismo. O ex-seminarista
tornava-se membro daquela ordem ateista de cavaleiros
andantes e peregrinos da revolução, para quem a vida,

“Se havia um


Estado onde se


acreditava que


a revolução fosse


não só desejável


como inevitável,


era o império


dos czares.


Gigantesco, pesado


e ineficiente,


econômica e


tecnologicamente


atrasado, com


126 milhões de


habitantes (1897),


80% de camponeses


e 1% de nobreza


hereditária, ele


era organizado de


uma forma que


todos os europeus


instruídos


consideravam


francamente


pré-histórica no


fim do século 19:


a autocracia


burocrática”


Eric Hobsbawm
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