cotes da minoria, o que fazia nascer o movimento com
uma cisão que se mostraria irredutível.
Enquanto isso, na Sibéria desde novembro de 1903,
Stalin-Koba programava sua fuga, que foi concretizada
em janeiro de 1904, com a desordem causada pela guer-
ra russo-japonesa. Um mês depois, viajando em carroças
e passando muito frio, Stalin chegou a Tbilissi, onde to-
mou conhecimento da cisão do partido, e logo se afinou
com o ideário bolchevique. Trotski afirma em sua bio-
grafia da Revolução que Stalin foi menchevique antes de
ser bolchevique, mas nada na postura dele, e mesmo sua
devoção a Lênin, indicam isso. As duas facções digladia-
vam-se entre si quando, em janeiro de 1905, explodiu a
revolução popular que inflaria todo o país. Nos dizeres
de Trotski, já na época conhecido do partido e aliado
dos mencheviques, a Revolução de 1905 foi o “ensaio ge-
ral para a Revolução de 1917”.
O ENSAIO DA REVOLUÇÃO
Conforme escreveram Dorothy e Thomas Hoobler
em “Grandes Líderes – Stalin” (Nova Cultural, 1985),
“foi a primeira confrontação séria entre o poder czarista
e o descontentamento popular provocado pelos salários
e pelas condições de trabalho nas indústrias em expan-
são, pelo peso crescente dos impostos, pela evolução da
guerra com o Japão e pela falta de direitos civis e meios
de expressão e ação política”.
Pelo calendário russo, era 9 de janeiro quando uma
manifestação de populares – cerca de 200 mil pessoas
- rumou para o Palácio de Inverno a fim de fazer um
pedido ao czar. Não havia armas nem queixas verbais ao
governante ou ao regime. Pelo contrário, carregavam car-
tazes com ícones religiosos e retratos do czar, e cantavam
hinos de louvor ao chefe da nação. Apesar disso, Nico-
lau II saiu de São Petersburgo na véspera da passeata,
deixando para a ocasião a polícia cossaca. Aquele seria
chamado de “o domingo sangrento”, pois a polícia, não
obtendo sucesso na dispersão da massa, passou a atirar
sem dó nos manifestantes. Os tiros dos cossacos foram a
“ponta-de-lança” de uma revolução que, a partir dali, se
espalharia por toda a Rússia através de greves, revoltas e
ações de boicote.
As consequências negativas da guerra contra o Ja-
pão desde o ano anterior marcaram um dos pontos altos
de insatisfação da população. Seus efeitos seriam como
fermento para a Revolução, tanto que, em setembro de
1905, o governo russo firmou um acordo de paz, a fim de
fazer voltar ao país as tropas ocupadas com a guerra para
combater os revolucionários.
No final de outubro, a economia russa parou. En-
tre os revolucionários, no mesmo outubro, foi criado o
Soviete de São Petersburgo, um conselho de deputados
operários liderado por Leon Trotski. Queriam partici-
pação política e incitavam a população a não pagar im-
postos. Seu poder, por um breve período de tempo – até
a prisão de seus principais membros em novembro e de-
zembro –, rivalizou com a administração oficial. O go-
verno do czar, diante da situação calamitosa, passou a
querer negociar. Era ceder para não cair. Assim, em 30
de outubro, no que se chamou de “Manifesto de Outu-
bro”, a Rússia era convertida em uma monarquia consti-
tucional, em que a liberdade de expressão e as organiza-
ções partidária e sindicais eram adotadas, e foi convoca-
da uma assembleia representativa, a Duma.
O Soviete de Moscou, em dezembro, se rebelou e
foi sumariamente liquidado numa repressão que deixou
mais de mil mortos. A partir desse momento, a Revolu-
ção começou a perder força na mesma medida em que
o regime se fortalecia baseado na força repressora. Era
hora de unir forças para resolver o que deveria ser feito.
Assim foi que, em abril de 1906, o IV Congresso do par-
tido teve lugar na Finlândia, território sob domínio do
império russo. Ali se encontrariam todos os principais
líderes da Revolução e do partido. Ali também nasceria
a briga e a birra entre Trotski e Stalin, que culminaria no
assassinato do primeiro em 1940 a mando do segundo.
Seria nessa ocasião também que Stalin conheceria pes-
soalmente seu líder e mentor, Wladimir Lenin.
Lênin e Stalin em 1922
AFP