Grandes Ditadores da História - Hitler & Stalin - Edição 01 (2019-08)

(Antfer) #1

N


ada parecia mais grandioso do que a vitó-
ria russa sobre os nazistas. E talvez nin-
guém tenha se achado com mais direito de
se sentir responsável por ela do que Josef
Stalin. As comemorações e o culto à personalidade dele
após a guerra foram de caráter esplêndido. Mesmo to-
talmente destruída, a população mantinha sua fé e espe-
rança não tanto na União Soviética, mas em Stalin. Se
ele viveu seu apogeu de popularidade, foi naquele mo-
mento de 1945.
“A nação estava mutilada e faminta. Provavelmen-
te, esperava que milagres viessem da vitória e do gover-
no. Queria ver as cidades reconstruídas e as indústrias
e a agricultura restabelecidas. Ansiava por mais comida,
mais roupas, mais escola, mais lazer. Mas nada disso po-
dia ser obtido rapidamente a partir dos recursos exauri-
dos e desorganizados da Rússia. O sofrimento, em meio
ao arrebatamento da vitória, se mostrava duplamente im-
paciente; e Stalin não podia frustrar a nação. Para acele-
rar a reconstrução e melhorar o padrão de vida, devia va-
ler-se dos recursos econô-
micos de outras nações”,
escreveu Deutscher.
E foi isso que Sta-
lin começou a fazer
quando
per-
cebeu
que as na-
ções oci-
dentais o
viam com des-
dém e que planos
de ajuda econômi-
ca seriam formas de
converter o comunis-
mo russo em capitalis-
mo. Mesmo precisan-
do de ajuda financeira,
Stalin acabou desde-

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Ao fim da 2a Guerra Mundial, a União Soviética era
tida como grande vencedora do conflito, apesar de
sua situação precária. Stalin surgia como um líder
notável, ao lado de Roosevelt e Churchill
Por Lucas Pires

e a agricultura restabelecidas. Ansiava por mais comida,
mais roupas, mais escola, mais lazer. Mas nada disso po-
dia ser obtido rapidamente a partir dos recursos exauri-
dos e desorganizados da Rússia. O sofrimento, em meio
ao arrebatamento da vitória, se mostrava duplamente im-
paciente; e Stalin nãopodia frustrar a nação. Para acele-
rar a reconstrução e melhorar o padrão de vida, devia va-
ler-se dos recursos econô-
micos de outras nações”,
escreveuDeutscher.
E foi isso que Sta-
lin começou a fazer
quando
per-
cebeu
que as na-
ções oci-
dentais o
viam com des-
dém e que planos
de ajuda econômi-
ca seriam formas de
converter o comunis-
mo russo em capitalis-
mo. Mesmo precisan-
do de ajuda financeira,
Stalin acabou desde-

nhando do Plano Marshall – a ajuda norte-americana
para a reconstrução da Europa –, que ele via como uma
forma de dependência contrária a seus ideais.
Diante disso, renegou qualquer forma de auxílio dos
EUA e passou a apoiar governos pró-soviéticos no Les-
te Europeu. Assim, países como Iugoslávia, Polônia,
Romênia, Bulgária, Tchecoslováquia e até parte da Ale-
manha – chamada de Alemanha Oriental depois da di-
visão do país em quatro áreas de influência – passaram
a ter governos comunistas ou controlados por Moscou.
A intenção de Stalin era justamente ter parceiros nesses
países para vender e adquirir provisões.
Essa ação foi chamada por Churchill, de “cortina de
ferro”, em que o líder soviético separava a URSS e os de-
mais países sob seu domínio do resto do mundo. Essa
“cortina” interessava muito a Stalin, pois preservava certo
mercado para os russos e ainda impossibilitava a obten-
ção de informações de seu país por parte do mundo oci-
dental, que acabava por saber muito pouco do governo
soviético e de suas ações internas. Para Deutscher, “a ‘cor-
tina de ferro’ escondeu a autocracia de Stalin, seu despo-
tismo sinistro, mitos e fraudes. Em ambas as funções, a
‘cortina de ferro’ tornou-se a condição indispensável para
a própria existência do stalinismo”.
No campo interno, Stalin centralizava tudo em sua
pessoa, eclipsando os generais e militares que tiveram na
guerra uma explosão de popularidade, como o Marechal
Jukov. Praticamente um ano depois da vitória, imprensa
e propagandistas tinham esquecido os “heróis” da nação
que lutaram contra os nazistas. Para se ter ideia, a co-
memoração do terceiro aniversário da tomada de Berlim
pelo Exército Vermelho foi feita pelo “Pravda”, sem que
fosse mencionado o nome de Jukov.
A população teve que manter a rigidez da vida do pe-
ríodo de guerra, com a implantação de um quarto plano
quinquenal. Mulheres e crianças tinham de trabalhar, pois
toda uma geração de homens havia morrido em batalha.
Em 1947, a Doutrina Truman expunha a Guer-
ra Fria com seus contornos finais. O que antes esta-
va no ar, ainda a ser definido, passou a ganhar entornos
Felipe Azjemberg

morte

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