Grandes Ditadores da História - Hitler & Stalin - Edição 01 (2019-08)

(Antfer) #1

U


m homem intransigente que se julga predes-
tinado. Um império que perdeu a identidade.
Um país em colapso. Esses elementos seriam
inflamáveis o bastante para incendiar o mun-
do? No caso de Adolf Hitler, a resposta é sim. A pergun-
ta que sempre paira sobre os personagens históricos cabe
como uma luva para ele: é a História que faz o líder? Ou,
inversamente, é o líder que faz a História? Na verdade, a
História corrobora para o surgimento de um líder, que, por
sua vez, acaba por moldá-la. Ele sempre reflete as vicissitu-
des do momento e incorpora os anseios das pessoas do seu
tempo e lugar. Assume a voz das multidões e as conduz pe-
las trilhas dos fatos.
Se não tivesse existido um Hitler, será que a Alemanha,
humilhada após a Primeira Guerra, se levantaria contra o
resto da Europa? Provavelmente, sim. Mas o conflito talvez
possuísse um rosto diferente. Se seria menos brutal ou me-
nos fanático, nunca saberemos. Afinal, o povo alemão estava
ao lado de Hitler, e o Führer deu voz às muitas tendências,
às crenças e aos pensamentos que grassavam na Alemanha
depois da Primeira Guerra.
Hitler é mais uma criação da História do que uma au-
to-invenção. Ele refletiu como ninguém o desejo de um
país rico e glorioso atolado numa situação de humilha-
ção e menos-valia. Como o próprio Winston Churchill −
provavelmente o mais implacável inimigo de Adolf Hitler
− afirmou, foi a “insensatez dos vencedores” da Primeira
Guerra que causou a sede de vingança e de justiça de todo
o povo alemão. E, para comandá-lo, ninguém melhor que
um fanático cheio de vingança, um semilouco repleto de
som e de fúria capaz de lançar mão dos mais impensáveis
meios para levar seu povo à sonhada vitória. Mas o sonho
de Hitler acabou se transformando no pesadelo da Ale-
manha – e do mundo.

MÃE PROTETORA, PAI RÍGIDO
Adolf Hitler nasceu no pequeno povoado austríaco de
Braunau am inn, na fronteira com a Alemanha, em 20 de
abril de 1889. Naquela época, o Império Austro-Húnga-
ro se esfacelava, e Adolf iria crescer vendo a glória de seu
país ruir diante de seus olhos. Ele foi o sexto filho de Kla-
ra e de Alois Hitler, mas o terceiro vivo, uma vez que três
dos seus irmãos tinham morrido antes de completar dois
anos. Alois, o pai, era um funcionário da alfândega e esta-
va sempre ausente. Mesmo assim, talvez para afirmar sua
autoridade, era extremamente severo com os filhos, espe-
cialmente com o pequeno Adolf. Mas a atenção especial
ao filho era manifestada na forma de tremendas surras.
Para compensar, Klara, traumatizada pela perda dos
três rebentos anteriores, mimava seu caçula como se fosse
a última criança do mundo. Dessa forma, a infância de Hi-
tler se alternou entre as surras dadas pelo pai − por con-
ta dos motivos mais ínfimos − e as adulações desmedidas
da mãe. Esse tratamento ganhou uma dimensão extrema
quando Hitler tinha 13 anos. A morte de seu irmão Ed-
mond, o único menino além de Adolf, caiu como um raio
sobre a família. Era o quarto filho que a arrasada Klara per-
dia. A tristeza da mulher buscou consolo em Adolf, muito
mais do que na outra filha sobrevivente, Paula. E, se antes
Klara já exagerava na licenciosidade que concedia ao caçu-
la, agora, mais que nunca, ele podia tudo. A mesma coi-
sa aconteceu com Alois, mas conforme sua versão pessoal.
Embora tivesse mais dois filhos do casamento anterior,
Alois e Ângela, Adolf era o último herdeiro homem da
sua união com Klara. Com a intenção de fazer que o pe-
queno atendesse às suas expectativas, Alois também dedi-
cou mais atenção a Adolf. Só que, no seu caso, isso signi-
ficava aumentar a dose de rigor – com suas consequentes
surras. É claro que esse tratamento ambíguo acabou ge-

Formação da ideologia

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Com seu sonho artístico desfeito,
Adolf formou, ainda na juventude,
a ideologia nazista
Por Claudio Blanc
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