A
pesar da inegável projeção que Hitler conquis-
tou à frente do Partido Nacional-Socialista
dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), no
início ele não era, nem de longe, a principal fi-
gura do movimento. Na época, não tinha sequer confiança
em si mesmo para se imaginar como o poderoso ditador,
o Führer, o líder de toda a Alemanha que viria a ser. Sua
missão pessoal, nos primeiros anos da década de 1920, era
ser um agitador social incumbido de abrir caminho para
um governante realmente capaz. Isso fica claro em alguns
dos seus discursos, como o proferido em 4 de maio de
- Na ocasião, Adolf afirmou taxativamente que “nos-
sa tarefa é forjar a espada” que o futuro governante usaria.
“Nossa tarefa”, declarou ele, “é dar ao ditador, quando ele
aparecer, um povo preparado para ele”.
Isso, porém, mudaria por conta do próprio povo ale-
mão, que passou a ver na figura de Hitler o líder que tira-
ria o país daquela situação tão terrível quanto humilhante.
E foram justamente a força e a determinação de Adolf que
conquistaram os alemães. No entanto, ele não fez isso so-
zinho, mas deveu sua ascensão, em grande parte, a Ernst
Röhm, um ex-combatente da Primeira Guerra tão fanáti-
co e perturbado quanto o próprio líder da NSDAP.
Röhm, homossexual assumido, com o rosto marcado
por cicatrizes de tiros e perito em táticas militares, bus-
cava um movimento no qual pudesse se destacar e con-
quistar o poder que julgava merecer. Os discursos de Hi-
tler fizeram eco em suas convicções, e Röhm ingressou no
NSDAP quando o partido ainda estava no início. Imedia-
tamente, surgiu uma tremenda sinergia entre Hitler e ele.
O partido precisava de alguém como Röhm – um oficial
do exército alemão, – com contatos no alto escalão. Foi
através de Röhm que o NSDAP conseguiu armas e equi-
pamentos para formar uma força paramilitar que prote-
Ernst Röhm
Duas pessoas unidas por ideais bastante semelhantes, de visão e objetivos tão próximos a
ponto de colaborarem intimamente, mas, ao mesmo tempo, absolutamente separadas pelas
ambições pessoais, a ponto de se tornarem uma ameaça uma para a outra: assim eram Adolf
Hitler e Ernst Röhm. Enquanto o primeiro, a ponta de lança do Partido Nacional-Socialista
dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), precisava de Röhm por conta de seus contatos no alto
escalão do Reichswehr – o que restou do exército alemão depois do Tratado de Versalhes – e
para formar sua imprescindível milícia, este acreditava que podia usurpar os poderes de Hitler
quando chegasse a hora. Ledo engano. Nesse ninho de cobras, foi Adolf quem usou Röhm como
quis, até que este deixou de ser necessário. Além de formar as Tropas de Assalto (SA), as quais
calavam à força os detratores do líder nazista, enquanto este vomitava a mensagem nos comícios,
Röhm apresentou a estrela do NSDAP ao general Erich von Ludendorff (1865 - 1937), um dos
mais prestigiados oficiais do Reichswehr. No entanto, não demorou para que Hitler se livrasse de
Röhm. Só que os membros da SA eram tremendamente fiéis ao seu fundador, até mesmo mais
que a Hitler. Em 1923, numa manobra política digna de serpente, o futuro Führer depôs Röhm e
nomeou Hermann Göring, um herói da Primeira Guerra tremendamente leal a ele, comandante
de sua milícia. Não bastasse isso, para que Röhm não viesse a representar qualquer ameaça,
Hitler fez que ele fosse executado sem julgamento, em 1934. Um dos pretextos usados foi o
homossexualismo de Röhm, o qual ele não temia esconder.
Aquele cabo do exército
derrotado, ex-artista
frustrado, indigente, pintor
de parede, desertor das
forças austríacas,
mas herói de guerra e dono
de uma eloqüência
impressionante, viu-se
transformado em algo até
mesmo maior que o líder
absoluto do Nacional-
Socialismo. Hitler era tido
por toda a Alemanha como
o próprio Partido
AFP