Grandes Ditadores da História - Hitler & Stalin - Edição 01 (2019-08)

(Antfer) #1

E


ntre todas as coincidências e ironias do destino
que levaram Adolf Hitler e o Partido Nacional-
-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NS-
DAP) ao poder, possivelmente, a maior delas foi
um fracasso que acabou sendo revertido em vitória. O Puts-
ch , ou “golpe”, da Cervejaria, nome com o qual a tentativa de
golpe de Estado passou para a história, colocou Adolf na
prisão, mas, ao mesmo tempo, catapultou sua mensagem
em âmbito nacional, incendiando a Alemanha.
O estopim do movimento foi aceso em janeiro de
1923, quando forças francesas e belgas ocuparam uma re-
gião ocidental da Alemanha, o Ruhr, não só para garantir
que o país cumprisse os pagamentos estipulados no Tra-
tado de Versalhes, mas também por medo de uma inva-
são, como, de fato, veio a acontecer no início da Segun-
da Guerra Mundial. Logo, o barril de pólvora explodiu.
Os alemães exigiram que seus governantes tomassem ati-
tude. E, como se a situação já não fosse tremendamente
inflamável, mais lenha foi jogada na fogueira quando os
soldados franceses abriram fogo sobre operários alemães
que protestavam contra a invasão. Dezenas de opositores
foram mortos e feridos. Indignados com o acontecimen-
to, os partidos extremistas incitaram as massas, exigindo
uma atuação imediata e efetiva da titubeante República
de Weimar. A mensagem implícita que passavam em seus
comícios era a de que, se o governo não tomasse providên-
cias, eles mesmos o fariam. A resposta governamental foi
tímida – ao menos para os extremistas. E uma crise incen-
diária se alastrou por todo o país.
Uma das consequências da invasão franco-belga foi a
união dos partidos de extrema direita sob a Kampfbund,
ou Liga de Batalha, no qual Hitler acabou sendo escolhido
líder. Mas não foi só isso que aconteceu. Motins nas ruas,
greves, anarquia, particularmente em Munique e na Bavie-

ra, a região onde Adolf e o NSDAP atuavam, fizeram que
o governo de Weimar concedesse plenos poderes ao chefe
do alto governo da Baviera, Gustav Ritter von Kahr. Em
setembro, Von Kahr decretou estado de emergência e con-
seguiu impor uma certa estabilidade na região. No entanto,
ele precisou usar a força. Uma vez mais, milícias comunis-
tas viram uma oportunidade de tomar o poder e separar a
Baviera do resto do país. Assim, atacaram o comissariado de
polícia, mas foram recebidos a bala e dominados.
Confiante da sua energia, Von Kahr pensou em es-
tender sua ação e influência para o resto da Alemanha. E
ninguém melhor que Hitler, que contava com o apoio do
general Erich von Ludendorff (1865 - 1937) – uma das
principais lideranças das encolhidas forças alemãs, o Rei-
chswehr – e da sua própria milícia, as Tropas de Assalto
(SA), para ajudá-lo a coordenar um golpe de Estado. Von
Kahr ofereceu ao líder da Liga de Batalha uma generosa
fatia de poder depois que o novo regime fosse imposto.
Mas, apesar desse acordo inicial, Von Kahr acabou dei-
xando Adolf e a sua Liga de lado. Havia muitas disputas
e diferentes pontos de vista envolvidos. Von Kahr era um
membro da aristocracia e um político experiente e habili-
doso. Hitler e seus seguidores eram, por sua vez, indepen-
dentes demais. Além disso, Von Kahr tinha conseguido
apoio direto em várias regiões alemãs, e não precisava mais
do futuro Führer e da SA. O que ele não esperava era que
a Liga de Batalha fosse agir por conta própria.

GOLPE NA CERVEJARIA
Na noite de 8 de novembro de 1923, numa grande cer-
vejaria da cidade, a Bürgerbräukeller, Von Kahr proferia
um inflamado discurso antimarxista a uma plateia reple-
ta de aristocratas, dirigentes políticos, oficiais do exérci-
to e outros influentes representantes da sociedade bávara,

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A tentativa de golpe de Estado, episódio
que ficou conhecido como o "Putsch da
Cervejaria", foi o começo da estupenda
popularidade de Hitler e de suas ideias
Por Claudio Blanc
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