Por essas e outras, a figura do grande ditador era re-
vestida de uma importância religiosa. Ele era visto como
um semideus pelos adeptos do misticismo nazista. A sei-
ta seguia, a ariosofia, isto é, a sabedoria oculta dos aria-
nos. A temível SS, composta pelos oficiais da elite nazista,
funcionava como uma sociedade secreta, com iniciações e
transmissão de ensinamentos e símbolos. Era estruturada
nos moldes da ariosofia, tanto que seu próprio estandar-
te reflete isso. Deriva de um dos principais conhecimentos
dessa tradição: as runas.
RUNAS
Além de ter sido guerreiros ferozes e de ter ficado fa-
mosos pelos atos de barbárie, os povos nórdicos, dos quais
os alemães descendem, eram tremendamente místicos,
sempre respeitando os desígnios dos deuses. Qualquer
coincidência com o regime perpetrado por Adolf Hitler
não é acaso. O ditador refletia e adotava os costumes dos
antigos germânicos, e o uso das runas – às quais somen-
te os iniciados tinham acesso – foi uma marca desse revival
do arianismo. E, para conhecer os desejos e as tramas dos
imortais, nada melhor do que usar um método criado pe-
los seus ancestrais, um oráculo que os sacerdotes nórdicos
lançavam mão: as runas. Trata-se de um tipo de alfabeto,
cujas letras também são símbolos mágicos, cada uma tem
um nome significativo e um som respectivo. As runas foram
empregadas na poesia, em inscrições e como oráculo. Cada
runa é vinculada a um deus celeste, como o Sol e a Lua.
Como os nórdicos acreditavam que elas tinham pode-
res sobrenaturais, as runas eram gravadas nas armas dos
guerreiros, em pedras comemorativas e em monumen-
tos funerários. Dessa forma, elas ofereciam proteção. Mas
Os símbolos, além
de inspirar os princípios
do nazismo, visavam a
despertar o patriotismo e
incitar todos a fazer tudo
pelo país. Tudo mesmo. Hitler
considerava o povo
mera “massa de servidores”,
sem capacidade para
decidir e, muito menos,
governar
Ilustração: Fábio Mattos