SETEMBRO | EDITORIAL
O estado do Árctico
POR SUSAN GOLDBERG
ÁRCTICO
O QUE OUTRORA SE
CONSIDERAVA UM DESERTO
GELADO É HOJE DESCRITO
COMO UMA OPORTUNIDADE.
O ÁRCTICO TRANSFORMOU-SE
NUM NEGÓCIO LUCRATIVO.
NA PRIMAVERA PASSADA, eu e o meu marido
viajámos para o Árctico numa expedição
da National Geographic. Nunca tínhamos
estado ali e ficámos impressionados com a
escala da sua beleza, com os glaciares azul-
-claros brilhando ao sol da meia-noite e a
abundante vida selvagem. Nunca me vou
esquecer de ter visto uma enorme morsa em
frente de um jovem urso-polar (que pruden-
temente decidiu seguir em frente).
Também não esquecerei as palavras
do comandante do navio, Leif Skog, quando
proclamou que chegáramos mais a norte do
que qualquer outra das suas expedições.
Sabíamos que isso tinha alguma importância:
Skog navega nas águas polares há mais de
quatro décadas.
Em breve, a experiência tornou-se
amarga quando percebemos o motivo: o gelo
que normalmente trava o avanço dos navios
para norte tinha derretido. Nesta edição,
analisamos esse e outros efeitos das altera-
ções climáticas no Árctico, incluindo
a rápida modificação do equilíbrio geopolí-
tico na região.
“O que outrora se considerava um deserto
gelado é hoje descrito como uma oportuni-
dade. Por outras palavras, o Árctico transfor-
mou-se num negócio lucrativo”, escreveu o
jornalista Neil Shea, autor da reportagem “A
Nova Guerra Fria”. Nesse trabalho jornalís-
tico, Neil aborda a intensa competição entre
os países que fazem fronteira com a região
mais setentrional do planeta, desejosos de
assegurar um quinhão importante dos recur-
sos ocultos debaixo do gelo. Neil alerta tam-
bém para a rápida diminuição do gelo de
Verão, que antecipa a abertura de rotas marí-
timas que não passavam de meras ficções há
algumas décadas.
O que vi no Árctico e o que lerá nesta edi-
ção dá que pensar. Oxalá essa reflexão nos
anime a agir. Com sorte, ganharemos alento
para fazermos o que estiver ao nosso alcance
para retardar o avanço das alterações climá-
ticas. Obrigado por ler a National Geographic.
Este jovem inupiat acompanhou uma expedição de caça que procurou sem
sucesso focas-barbudas no oceano Árctico perto de Utqiaġvik (Barrow), no Alasca.
O clima mais quente afectou as principais fontes de alimento da comunidade.
KATIE ORLINSKY