Clipping Jornais - Banco Central (2022-04-24)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Folhamais
domingo, 24 de abril de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

originais pelos fatores que geraram as mudanças
climáticas.


Resultado: um ambiente de opinião pública que deixa
tanto observadores quanto tomadores de decisão
perplexos e inertes, desencorajando a perspectiva de
ver qualquer chefe de Estado latino-americano
protagonizando algum ato dramático em favor das
restrições de emissões.


A angústia desencadeada pela mudança climática não
gera necessariamente um pessimismo sobre o rumo de
nossas sociedades.


Ao contrário, os latino-americanos em geral, e os
brasileiros em particular, destacam-se como os mais
otimistas a respeito da possibilidade de corrigir os
problemas atuais.


Só 25% no Brasil estão total ou parcialmente de acordo
que é muito tarde para corrigir os cataclismos climáticos
em curso, apesar das evidências.


Isso os coloca como o país em desenvolvimento mais
otimista, superando inclusive os norte-americanos e seu
negacionismo climático.


Mexicanos, paraguaios, peruanos e colombianos
também exibem maiorias que confiam em um final feliz
sem muito argumento para defender esse ponto de
vista, amparados em uma crença ingênua redentora na
ciência ou em ações empresariais, deflagrando, assim,
o alarmismo genérico demonstrado com o tema.


Esse otimismo latente contrasta com o ceticismo das
sociedades asiáticas. Dois terços da Índia e seis em
cada dez chineses e paquistaneses questionam
abertamente a ideia de que é só uma questão de tempo
até que as soluções eliminem o problema.


A desertificação de seus solos, a contaminação e o
desaparecimento de suas fontes de água, os dilúvios de
monções e a propagação de pragas, fruto do calor
excessivo, lembram a quase um terço da humanidade
ali reunida que o otimismo é a ausência de informação


ou de experiência brutal com os fatos.

A fenomenal individualização das soluções para a
mudança climática (e a inocência parcial percebida de
corporações e governos) é outro fator que desmotiva a
mobilização pública e coletiva ou a fiscalização e
cobrança de decisões efetivas por parte dos líderes.

Nove em cada dez brasileiros, mexicanos, peruanos,
colombianos e paraguaios acreditam que suas ações
pessoais podem fazer a diferença na qualidade
ambiental. E 80% dos argentinos e chilenos pensam
igual.

Essas percepções estão acima da média dos países
europeus ou norte-americanos, nos quais a legislação e
a infraestrutura organizacional permitem uma
assertividade mais efetiva dos consumidores sobre
empresas e governos para influenciar as ações
responsáveis.

Surpreende ainda mais na medida em que 50% das
emissões de gases de efeito estufa provêm dos 10%
mais ricos da população mundial, o que basicamente
exclui quase todos os latino-americanos.

Se os cidadãos europeus ou norte-americanos, com seu
impacto sideral no consumo, fossem líderes no
reconhecimento de suas responsabilidades, isso soaria
razoável.

Um canadense emite 14 toneladas de CO2 por ano, um
finlandês, 9,7, um inglês ou um japonês, de 8,5 a 8,1,
respectivamente. Mas o fato de os latino-americanos o
fazerem (emitem cerca de 3 a 3,5 toneladas de CO2 per
capita por ano) nos diz outra coisa.

Sem dúvida, uma sensação de empoderamento
ambiental ajuda a criar cidadãos mais comprometidos,
mas também arrisca formar uma falsa consciência de
agentes de mudança, especialmente quando é reduzida
a pequenos atos cotidianos individuais e inócuos -
principalmente se comparado ao efeito que as decisões
corporativas e estatais podem ter.
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