Clipping Jornais - Banco Central (2022-04-24)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
domingo, 24 de abril de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

e da gratuidade. Uma meta relevante seria elevar a
cobertura da Estratégia de Saúde da Família de pouco
acima de 60% em direção a 100%, com prazos e metas
definidos.


No campo da educação, cabe estabelecer metas
ambiciosas de qualidade (medida por critérios aceitos
internacionalmente) e cuidar do arrasador atraso decor
rente da pandemia.


O bem-sucedido combate à pobreza extrema através do
Bolsa Família precisa ter seus recursos orçamentários
protegidos e ampliados, e seus mecanismos,
aperfeiçoados, para se contrapor ao impacto perverso
das recessões, especialmente para os que atuam na
informalidade.


O combate à desigualdade de renda deve ser objeto de
ações tanto do lado da iníqua carga tributária quanto do
gasto público, valiosa alavanca da mobilidade social.
Não há mais por que esperar para reformar as regras do
Imposto de Renda, tampouco adiar um profundo
repensar das prioridades do gasto público.


No que tange à produtividade da economia, além dos
esforços nas áreas da educação e da saúde, cabe
aprovar uma reforma (já mapeada) que substitua o atual
caos da tributação indireta por um imposto sobre o valor
adicionado bem desenhado. Cabe aqui também uma
reforma administrativa, voltada para a produtividade
do próprio Estado.


Me encanta a possível transformação do Brasil de pária
em potência ambiental. Um Brasil Verde contribuiria (e
seria pago por sua contribuição) para reduzir o
aquecimento global e preservara biodiversidade do
planeta. Adicionalmente, é crucial que as pessoas
entendam que os benefícios iriam ainda mais longe,
pois o cuidado com o meio ambiente (leia-se
saneamento e poluição) melhoraria imensamente sua
qualidade de vida e autoestima. Essa visão se casa
também com o necessário reposicionamento da política
externa, que precisa voltar a suas raízes.


Finalmente, cabe fortalecer o tripé macroeconômico


para reduzir de forma definitiva a inflação, as taxas de
juros e a incerteza no país. Já gastei muita tinta aqui
com o tema. Vou poupá-los hoje.

Penso que o reforço à democracia e ao sistema político
são de longe as propostas mais importantes e urgentes.
Demandam, portanto, posições firmes de qualquer
candidato que de fato pretenda pôr o Brasil em uma
trajetória de desenvolvimento.

Quanto às demais propostas, de onde vêm os recursos?
Mais endividamento não parece viável ou mesmo
recomendável, já vimos esse filme. Existem espaços
relevantes para um redirecionamento de gastos públicos
a partir de reformas em três grandes áreas: na folha de
pagamentos do Estado (como um todo), na Previdência
(sim, ainda falta) e nos subsídios do Imposto de Renda.

Bem sei que não se trata exatamente de uma proposta
de apelo político e popular. Infelizmente é da natureza
do discurso populista escamotear as relações de causa
e efeito na economia. Nisso contam inclusive com
mercadores de milagres, que por sua vez contam com a
péssima memória da maioria.

Em geral, fala-se apenas do lado positivo das
propostas, que num passe de mágica se financiariam
através do crescimento. Notem que as reformas aqui
preconizadas exigem recursos que excedem em muito o
necessário para recuperara saúde do tripé. Esse é o
real tamanho do desafio. Com mais investimentos
convencionais e sociais, o crescimento da economia
seria de fato bem mais alto e inclusivo. Mas, sem fontes,
não há programa. Sem programa, não há confiança e
investimento. Sem investimento, não há crescimento.
Simples assim. Talvez o eleitorado entenda essa
cadeia, não custa tentar.

Vejo espaço para uma terceira candidatura, que se
apresente ao debate com posições claras sobre
propostas como as aqui resumidas. No mínimo
enriqueceria o debate. Quem sabe até, com
competência e sorte, não ganhe o mandato para
arrumar o nosso país?
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