Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1

EM DISPUTA


A TERRA


Por ser um reduto de fertilidade e
abundância agrícola, a Ucrânia nunca
passou despercebida. O segundo maior
país em área da Europa, depois da Rússia,
sempre foi sinônimo de pujança. Desde
1921, com o fim da Guerra Civil, os
camponeses soviéticos gozavam de
relativa autonomia. Eram livres para cultivar
em seus terrenos próprios desde que
cedessem parte da produção ao governo,
que ficava encarregado de determinar
os valores das transações. Só que,
pelo fato de a URSS se consolidar como
grande exportadora de grãos, as alas
mais doutrinárias condenavam esse
sistema misto por dois motivos. Primeiro,
por considerá-lo ineficiente, já que a
baixa escala comprometia a produtividade;
segundo, por achá-lo politicamente
ameaçador, uma vez que o Estado não
detinha pleno controle sobre os produtores.
Então, providências foram tomadas.
“Já em 1926 e 1927, os governantes
comunistas começaram a apertar os
camponeses e fazendeiros (que então
constituíam 80% da população): os mais
prósperos entre eles eram submetidos a
impostos onerosos e os preços dos grãos
foram cortados arbitrariamente em 20%”,
afirma Adam Ulam, Diretor do Russian
Research Center da Universidade de
Harvard, no prefácio do livro Holodomor:
O Holocausto Esquecido (ed. Vide Editorial),
de Miron Dolot. Na prática, tais medidas
representaram uma campanha drástica
contra os trabalhadores rurais. Entre 1928
e 1930, cada vez mais se sedimentava o

terreno propício para a coletivização
das terras. “O regime enviou ao campo
25 mil de seus membros, em sua maioria,
jovens comunistas, fanáticos, doutrinados
para enxergar o camponês como um
pequeno capitalista e inimigo de classe,
e inteiramente desprovidos de escrúpulos
quando se tratava de intimidar os
moradores dos vilarejos a se juntarem
à fazenda coletiva”, descreve Ulam.
Além disso, saques, espancamentos e
linchamentos, perpetrados, inclusive, por
vizinhos leais ao regime, eram corriqueiros.
Neste cenário conflituoso, a produção
agrícola despencou na Ucrânia. Mesmo
assim, na primavera de 1932, o plano
estatal de requisição foi fixado no
montante mais alto até então: 29,5 milhões
de toneladas. “No fim do ano, as pessoas
já estavam passando fome – a URSS
exportou 1,5 milhão de toneladas de
grãos, uma quantidade ampla o bastante
para alimentar os 6 ou 8 milhões de
pessoas que, segundo se estima,
morreram de fome no período 1932-33”,
denuncia o pesquisador.

Guardas soviéticos tiram colheitas de agricultores em Odessa

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