Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Economia
domingo, 15 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

nem todas as despesas são indexadas, o resultado da
maluquice é que quanto maior for a inflação, mais folga
haverá e mais fácil será arbitrar os conflitos.


A inflação tem essa ambiguidade. Se subir, ajuda o
governo, mas aumenta a impopularidade do governante.
Ele pode reagir fazendo pacote de bondades e ainda
dizer que cumpriu metas fiscais.


E o que vai acontecer com a inflação deste ano? Em
geral, os economistas preveem que o acumulado de 12
meses cairá ao longo do segundo semestre, saindo de
dois dígitos. O economista-chefe do Banco Alfa, Luis
Otávio Leal, fez uns exercícios para a coluna. Se a
inflação média do segundo semestre for igual à de
2020, quando a economia estava se recuperando do
primeiro semestre ruim, só voltaria a um dígito em
novembro. Seriam 14 meses de dois dígitos, algo
inédito na era Real. Se for igual ao segundo semestre
do ano passado, em que houve vários choques, só volta
a um dígito em fevereiro de 2023 completando 18
meses.


Esse é o cenário de fundo da disputa eleitoral este ano.
Na política, a inflação alta sempre prejudicou o
governante. Na economia, tem efeitos contraditórios, tira
renda das famílias, mas favorece as contas públicas. O
mais aconselhável sempre será lutar contra ela.


"A inflação alta derruba a renda das famílias e afeta a
popularidade do governo, mas também permite
aumento da arrecadação e das despesas"


COLUNISTAS


A economia tem razões que a política desconhece. A
inflação tem impacto na eleição, porque o chefe do
Executivo sempre será responsabilizado pelo
desconforto econômico que ela provoca. A alta dos
preços é um problema terrível, mas ajuda os governos,
pelo menos no curto prazo, porque eleva a arrecadação
e torna mais fácil arbitrar os conflitos. Para se ter uma
ideia, se a inflação continuar em dois dígitos, como está
agora, será fácil cumprir a regra do teto de gastos no
ano que vem. Como nem todas as despesas são


indexadas e as receitas crescem conforme a inflação,
isso abre espaço no teto. O cálculo no mercado é de um
espaço, por enquanto, de R$ 30 bilhões em 2023.

A inflação é o inimigo da economia e tem que ser
combatida, porque seu efeito mais perverso é tirar renda
dos mais pobres e vulneráveis. Mas tem efeitos
aleatórios, como esse, de tornar mais fácil a redução da
dívida pública.

O ex-presidente Lula disse que se for eleito vai acabar
com o teto de gastos, o presidente Bolsonaro também
prometeu mudá-lo. Tudo inútil porque a regra já foi
alterada várias vezes pela dupla Bolsonaro-Guedes. O
teto já não é o que foi quando ajudou a derrubar a
inflação de dois dígitos para o centro da meta ao ser
implantado no governo Temer. Se a inflação for
constante e crescente, torna ainda mais fácil alocar os
recursos. Com teto ou sem ele sempre foi assim. A alta
dos preços machuca a sociedade, mas ajuda os
governos. É por isso que levou tanto tempo a ser
enfrentada no Brasil. Derrotada pelo Plano Real, depois
de uma longa luta, ela está voltando a níveis perigosos
no governo Bolsonaro.

Os aumentos dos preços do petróleo, e seus derivados,
irritam a classe média, alimentam a inflação, perturbam
as empresas. Mas levam muito dinheiro para os cofres
públicos. Um dos cálculos que vi no mercado financeiro
mostra que se o petróleo ficarem US$115, e o dólar em
R$ 5, 00, a receita do setor público relacionada ao
produto será de 3% do PIB, a fortuna de R$ 360 bilhões
em 2022. Se ficar em US$ 100, as receitas serão de 2,
7% do PIB. Isso tornará mais fácil ter equilíbrio nas
contas públicas, no governo central e nos estados.

Uma das modificações na regra do teto de gastos tirou o
incentivo que o governo federal tinha de buscar a
inflação mais baixa em surtos inflacionários. Quando o
teto foi criado, a regra era que ele seria corrigido pela
inflação do meio do ano, e as despesas indexadas pelo
índice do final do ano. Havia uma razão para isso. Era
importante já saber, no meio do ano, o espaço das
despesas para preparar um orçamento mais realista. No
começo do ano passado, as projeções eram que a
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