Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1

BERNARDO MELLO FRANCO - O golpe já começou


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 15 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Jair Bolsonaro é um golpista. Nunca escondeu, nunca
disfarçou, nunca se sentiu obrigado a mudar. O capitão
ganhou fama como defensor da ditadura e da tortura.
Eleito com votos de militares, passou 28 anos na
Câmara como símbolo do extremismo de direita.


No terceiro mandato parlamentar, Bolsonaro ganhou as
manchetes ao pregar o fechamento do Congresso e o
fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Questionado sobre o que faria se chegasse ao Planalto,
abriu o jogo: 'Daria golpe no mesmo dia'.


Na mesma entrevista, o então deputado disse que o
Brasil precisava de uma guerra civil, mesmo que isso
provocasse a morte de inocentes. Ele também
escancarou seu desprezo pelas eleições. 'Através do
voto, você não vai mudar nada neste país. Nada,
absolutamente nada', decretou.


Numa trapaça da História, o inimigo da democracia se
valeu dela para chegar ao poder. Na campanha de
2018, Bolsonaro se vendeu como o extremista de
sempre. Falou em fuzilar adversários políticos, disse
que as minorias teriam que se curvar às maiorias,


renovou ameaças ao Judiciário e à imprensa.

A uma semana da eleição, prometeu 'uma limpeza
nunca vista'. Acrescentou que mandaria a 'petralhada'
para a 'ponta da praia' -referência a um local usado pela
ditadura para ocultar cadáveres de presos políticos.
Nada disso impediu que ele fosse eleito com 57 milhões
de votos e amplo apoio da elite econômica.

Ao subir a rampa, Bolsonaro começou a pôr em marcha
o plano anunciado em 1999. Não deu o golpe 'no
mesmo dia', mas trabalha desde a posse para viabilizá-
lo. Seu governo é marcado pelo ataque permanente às
instituições e pela campanha incessante contra o
sistema eleitoral.

Bolsonaro - sabe que as urnas eletrônicas são
invioláveis. Sua ofensiva faz parte de uma estratégia
para se perpetuar no poder. O capitão já deixou claro
que só aceitará o resultado em caso de vitória. Se for
derrotado, fará o possível para tumultuar o país e
impedir a posse do sucessor.

No último 7 de Setembro, o bolsonarismo promoveu um
ensaio geral do golpe. Não foi até o fim, mas deu novos
passos no caminho da ruptura. Atacou o Supremo,
questionou a segurança das urnas e definiu as eleições
como uma 'farsa patrocinada pelo TSE'. 'Só saio preso,
morto ou com vitória', desafiou.

Faltam 140 dias para o primeiro turno. Em desvantagem
nas pesquisas, Bolsonaro eleva a cada dia o tom das
ameaças. Na quarta-feira, fez um chamado à
sublevação armada. 'Quero que todo cidadão de bem
possua sua arma de fogo para resistir, se for o caso, a
um ditador de plantão', discursou. Na retórica dos
autocratas, o ditador é sempre o outro.

Depois de encenar mais um falso recuo, o capitão
voltou a conspirar à luz do dia. Nas últimas semanas,
sua ofensiva ganhou apoio explícito de porta-vozes da
caserna. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio
Nogueira, fez novas provocações ao TSE. O
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