National Geographic - Portugal - Edição 223 (2019-10)

(Antfer) #1
NATIONALGEOGRAPHIC

GRANDE ANGULAR | ECOVIA DO RABAÇAL


Perto da aldeia
abandonada de
Cachão, o rio ganha
força. Neste nicho
territorial em tempos
ocupado por comuni-
dades humanas, a
fauna iniciou uma
nova colonização
sem contemplações.
Avistam-se com
frequência nestas
águas guarda-rios,
melros-de-água
e lontras.

Não há percursos de extrema dificuldade, nem nin-
guém ficará para trás. Às já existentes casas de turismo
rural, restauração, locais de provas de vinho ao longo da
Ecovia, junta-se um Centro de Observação de Aves Aquá-
ticas. “É um trabalho de sapa da autarquia de Valpaços”,
diz Jorge Mata Pires. “Também é uma forma de criar
postos de trabalho e de fixar população na região.”

A ECOVIA não perde de vista o Rabaçal e afluentes. É
como se o rio estivesse sempre presente, lembrando que
a água é a principal força moldadora do espírito e do solo.
Alguns trechos apaixonantes ainda são quase inacessíveis
e ficaram de fora dos percursos já marcados, mas existe
a intenção de se construírem três quilómetros de passa-
diços que permitam aos visitantes aceder a locais aciden-
tados que poucos percorreram nas últimas décadas.
Há também um amplo património histórico que não
foi descurado, diz a arqueóloga Fátima Machado: “Existe
grande concentração aqui de lagares escavados na rocha,

apesar de muitos ainda não estarem classificados. Dis-
tribuem-se maioritariamente pela Terra Quente” e tes-
temunham a antiguidade da cultura vinícola na região.
São dois mil anos de solos remexidos e cuidadosamente
tratados até proporcionarem o apreciado néctar. Encon-
tram-se no concelho outros vestígios relevantes: algumas
antas e dólmenes dão conta do megalitismo na região.
Sepulturas na rocha, vias e pontes, vestígios de conheiras
e antigas explorações agrícolas da época romana contam
uma história quase tão antiga como as próprias rochas.
A geógrafa Noémia Martins, que também integra a
equipa científica da Ecovia do Rabaçal, define um terri-
tório marcado essencialmente por xistos e granitos:
“Estamos perante um relevo de origem tectónica, com
destaque para a serra da Padrela com 1.148m de altitude,
e um fosso tectónico onde se encaixa o rio Rabaçal e os
seus afluentes”, explica. “Nos percursos da Ecovia, encon-
tram-se bem visíveis as áreas de xisto e as de granito, com
a correspondente vegetação.” Na Casa do Vinho de
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