National Geographic - Portugal - Edição 223 (2019-10)

(Antfer) #1

68 NATIONAL GEOGRAPHIC


Trabalhadores colocam num
atrelado uma girafa que será
posteriormente deslocada
800 quilómetros até à
Reserva de Biosfera de
Gadabedji, no Nordeste do
Níger, onde irá contribuir
para o crescimento de uma
nova população da subespé-
cie, que conta com cerca de
600 animais.

“É uma espécie difícil de gerir”, resume
Morkel. “A queda é muito alta e a sua anatomia
é muito singular.” Com efeito, tudo na anatomia
desta criatura parece ter proporções extremas –
não apenas o seu famoso pescoço, mas também
as suas pestanas incrivelmente longas, as suas
patas (as mais compridas de qualquer animal), os
seus olhos (os maiores de qualquer mamífero ter-
restre), o seu crânio alongado e, principalmente,
a sua língua preênsil preta arroxeada, que pode
estender-se meio metro para fora da boca e des-
cascar agilmente um ramo de acácia, tão áspero
que um de nós não conseguiria segurá-lo. Até
o seu coração, que bombeia sangue através da
maior envergadura vertical de qualquer mamífe-
ro terrestre, pode ter mais de 60 centímetros de
comprimento, com paredes ventriculares com
mais de sete centímetros de espessura.
A girafa tem a tensão arterial mais alta de que
há conhecimento em qualquer animal, mas con-
segue baixar rapidamente a sua cabeça cinco
metros, até ao nível do solo, sem desmaiar. Como
tem dificuldade em levantar-se e deitar-se e dada
a sua vulnerabilidade quando está deitada no
solo, a girafa parece só ser capaz de dormir al-
guns minutos de cada vez (um fenómeno difícil
de observar na natureza). Pode passar semanas
sem água, hidratando-se apenas com a humida-
de que chupa das folhas. Foram necessários cin-
co anos a observar girafas nos desertos da Namí-
bia até Julian Fennessy, da GCF, possivelmente
o maior especialista mundial, ver uma afastar as
patas e baixar a cabeça para, desajeitadamente,
beber água numa poça. Este esforço desengonça-
do para obter o mais básico dos sustentos faz-nos
pensar em questões evolutivas. Mais do que o de-
bate sobre a função do pescoço comprido, inte-
ressa-me a questão: por que razão o pescoço é tão
curto em relação às patas tão compridas?
Ainda não temos explicação para estas ques-
tões. Segundo Nikos Soulounias, especialista
em biologia no Instituto de Tecnologia de Nova
Iorque, a girafa desenvolveu-se no subcontinen-
te indiano e migrou da Ásia para África há cerca
de oito milhões de anos. O seu parente vivo mais
próximo, o ocapi, que vive nas florestas húmidas
equatoriais da República Democrática do Congo,
não tem o pescoço comprido da sua prima.
As girafas são, por natureza, podadoras de ar-
bustos, comendo acácias e dando-lhes a forma
de ampulhetas que se abrem no topo, imedia-
tamente acima da “linha de forragem” – acima
da qual os pescoços altíssimos e as línguas com-


EM 2016 ALGUNS
CIENTISTAS TIVERAM
UMA EPIFANIA. AS ANÁLISES
GENÉTICAS REVELARAM
QUE OS ANIMAIS TÊM
QUATRO ESPÉCIES
DISTINTAS E NÃO UMA SÓ.
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