Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1

Pessoas matam, mas armas também


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
sábado, 28 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Rodrígo Zeidan


Os dois principais problemas do Brasil são a distribuição
de renda e a violência. O resto é secundário. As duas
tragédias desta semana, a chacina pelo Estado no
Brasil e a carnificina de crianças nos EUA, mostram
como precisamos rever toda a abordagem sobre crimes
no Brasil e no mundo.


Obviamente, isso não deve acontecer neste governo,
cujas ideias sobre desarmamento vêm de quem assistiu
a muitos filmes de faroeste e acha que basta dar uma
arma para que uma pessoa saiba se defender. Isso não
é verdade. Acesso às armas aumenta homicídios e
suicídios e não tem nenhum efeito sobre prevenção de
crimes. Assim como em um faroeste, as chances de um
passante sobreviver a um confronto com um criminoso
com uma arma é quase zero.


Política pública não se faz com anedotas do sujeito que
afugentou um bandido porque tinha um "trezoitão".
Sabe a frase batida de que "armas não matam, são
seres humanos que matam"? Não só está errada como
é consenso científico de que facilidade de acesso a


armas aumenta crimes numa quantidade cavalar.

Em artigo no principal periódico de economia, Duggan
(2001) mostrou inequivocamente como aumento de
posse de armas leva a mais homicídios. Desde então,
inúmeros outros estudos confirmaram o fato. Pior, o
efeito está aumentando, pois, como mostram Braga e
coautores (2021), as armas modernas são mais letais e
falham menos.

Restrição e desarmamento funcionam, seja nos EUA,
seja no Brasil, seja em qualquer outro lugar. Vários
países tornaram regras muito mais rígidas depois de
massacres como o de Uvalde. Austrália, Alemanha,
Inglaterra, Canadá, Nova Zelândia e Noruega, para ficar
em alguns exemplos, viram carnificinas como a do
Texas.

Na Austrália, depois que um cidadão abriu fogo,
matando 35 pessoas em 1996, o governo fez muito
mais que proibir o porte de armas. Confiscou,
recomprando forçadamente a maior parte das armas no
país. Muitas pessoas, mesmo sem cair na categoria do
confisco, entregaram suas armas voluntariamente para
o Estado. O resultado? Um dos países mais seguros do
mundo. Antes, havia um massacre do tipo a cada 18
meses. Desde então, houve somente uma tragédia.

E não é só homicídio. Em um artigo de Anestis e
Houtsma (2018), os autores mostraram que a diferença
de taxas de porte de arma nos estados americanos
explica 92% da variação da taxa de suicídios. "Ah, mas
no Brasil precisamos de mais que confiscar armas."
Sim, mas Schneider (2021) mostrou que o referendo do
desarmamento no Brasil, por si só, reduziu assassinatos
por arma de fogo em 12,2% e tentativas de homicídio
em 16,3%. Na Colômbia, com campanha parecida, a
redução foi de mais de 20%.

Desarmamento é só um passo. Precisamos de
confiança da sociedade no governo e vice-versa, além
de coordenação entre Poderes. Medellín, nos anos
1990, era uma das cidades mais violentas do mundo,
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