Saúde é Vital - Edição 438 (2019-01)

ALTERNATIVA POR ANDRÉ BIERNATH

FOTO: ALEX SILVA

Quais os principais problemas

desses tratamentos: eles não

funcionam ou fazem mal?

Existem mais de 400

modalidades e terapias diferentes

dentro da medicina alternativa.

Dizer que elas não funcionam

ou são danosas é um tipo de

generalização perigosa. O que eu

posso afirmar é que a maioria

delas não é eficaz e praticamente

nenhuma é inofensiva. Elas são

consideradas inócuas porque não

olhamos seus efeitos colaterais.

De todas essas terapias, existem

algumas que são mais perigosas?

Gostaria de mencionar aqui

a homeopatia. Os remédios

homeopáticos, em sua maioria,

não têm nada além de açúcar,

mas mesmo assim eles podem

ser danosos se utilizados como

uma opção em doenças tratáveis

por outros meios. Então, dizer

que esses tratamentos são

inofensivos, mesmo que por si

eles não representem um perigo

direto, não é verdade.

E por que essas técnicas e

soluções são tão populares?

Muita informação errada

é publicada e transmitida,

particularmente nos meios

digitais. Se você entrar na internet

agora e procurar no Google

por medicina alternativa, vão

aparecer 50 milhões de sites.

Em minha pesquisa, eu olho

sistematicamente para muitos

desses portais e sempre concluo

que, ao seguir as orientações

dessas reportagens, você só vai

acelerar a chegada da sua morte.

O Ministério da Saúde do Brasil

tem um programa que inclui 29

terapias alternativas no sistema

público. Qual a sua opinião sobre

iniciativas dessa natureza?

Se nós integramos tratamentos

sem comprovação científica na

rotina dos cuidados de saúde,

estamos fazendo um desfavor

a todo mundo. Isso representa

uma zombaria ao princípio da

medicina baseada em evidências.

Ou levamos as evidências a

sério, e aí temos que focar em

tratamentos que sabemos trazer

mais benefícios que malefícios,

ou seguimos pelo caminho da

medicina sem provas.

Um dos principais argumentos

de quem é favorável às terapias

alternativas está na experiência

pessoal. Como interpretar esse

tipo de relato?

Uma pessoa muito mais

esclarecida que eu certa vez me

disse que as três palavras mais

perigosas na medicina são “na

minha experiência”. Porque

sua experiência pode estar

completamente errada. Você

começa um tratamento, se sente

melhor e acha que aquela pílula

proporcionou o benefício. Ora,

pode até ser o medicamento,

claro. Mas pode ser também uma

série de outros fatores que não

lembramos logo de cara.

O maior inimigo

das terapias alternativas

Entrevista com Edzard Ernst

Edzard Ernst é

médico e professor

emérito da Universidade

de Exeter, na Inglaterra.

Publicou mais de mil

artigos científicos

e escreveu 52 livros.

Nos primeiros anos de

sua carreira, foi adepto

da homeopatia

!

18 • SAÚDE É VITAL • JANEIRO 2019