Superinteressante - Edição 399 (2019-02)

(Antfer) #1

Oumuamua: o asteroide de


fora do Sistema Solar que


virou nave alienígena.


que justficavam sua rota
pouco comum e a acelera-
ção altíssima da rocha es-
pacial, o artgo gasta duas
linhas descrevendo o que
chamam de “cenário mais
exótico”: o tal charuto
poderia ser nada menos
que uma sonda aliení-
gena. Pronto. Estava
incorporada uma nova
“evidência” ufológica.
O caso ajuda a enten-
der por que a ufologia tem
dificuldade de se aproxi-
mar de uma abordagem
realmente científica. Em
vez de buscar hipóteses e
questonar as evidências,
até as que sejam supostas
em grandes universidades
do mundo, o caminho que
costma ser escolhido é
o de assimilar conclusões
mais convenientes à tese
da vida alienígena.
Isso não significa afir-
mar que não existe vida
fora da Terra. A maior
possibilidade é de que
haja, sim. Os ingredien-
tes para a formação da
vida, como água líquida
e moléculas de carbono,
são abundantes Universo
afora. E a ciência estma
que haja bilhões de plane-
tas parecidos com a Terra
no Universo observável –
um deles, inclusive, orbi-
ta a estela que fica mais
perto do Sistema Solar,
Proxima-Centauri, a me-
ros 4,5 anos luz daqui – o
cento da Via Láctea, para
dar uma ideia, fica a 27
mil anos-luz; Andrômeda,
nossa galáxia vizinha, a
2,5 milhões de anos-luz.
Logo, é insano defen-
der que a vida surgiu uma
única vez no cosmos, por
mais que nunca tenhamos

tdo sinal dela. Como escreveu Carl Sa-
gan: “Ausência de evidência não signi-
fica evidência de ausência”. Com essa
frase, o astônomo basicamente resolve
o assunto. A vida lá fora é extemamente
provável. Mas um fato não muda: jamais
houve qualquer evidência de visitas de
alienígenas à terra. Logo, insano é achar
que o planeta segue sendo visitado, e
pior: que eles estão mancomunados com
líderes mundiais, que guardam tdo em
segredo há décadas.
Por paradoxal que essa afirmação
pareça, o fato é que a existência de vi-
da fora da Terra nem é tão importante
assim para a ufologia. “O que interes-
sa aos ufólogos, como comunidade, é
descrever os modos de atação [dos

eventais alienígenas] e apresentar as
suas teses sobre as relações desses seres
com forças polítcas ocultas terrestes”,
diz Rafael Antnes Almeida, pesquisa-
dor na área de antopologia da ciência
e autor da tese “Objetos intangíveis:
ufologia, ciência e segredo”, pela UnB
(Universidade Federal de Brasília).
No fim, a ufologia precisa do mistério
para existr na forma como existe hoje.
Almeida completa: “A ideia de que o
segredo é uma força constttva da
ufologia certa vez foi resumida por um
entevistado durante minha pesquisa
de campo. Ele me disse algo como: ‘se
um contato aberto [com vida inteligente
de fora da Terra] acontecer algum dia,

a ufologia acaba”’. (^) S
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