Superinteressante - Edição 399 (2019-02)

(Antfer) #1
hibernação, viagens espaciais longas se tornariam
mais viáveis – e a humanidade poderia ir mais longe.

Dormindo apertado
Dependendo da posição da Terra e de Marte em suas
tajetórias em torno do Sol, a distância ente os dois
planetas varia de 55 a 401 milhões de quilômetos.
Se iniciada no momento certo, quando os planetas
estão mais próximos um do outo, a ida levaria seis
a oito meses. Somando o tempo na superfície do
planeta mais o tempo da volta, uma missão pode-
ria levar quase dois anos. Isso significa que a nave
precisaria levar grande quantdade de combustível
e suprimentos – e pesaria no mínimo 300 toneladas,
conta as 120 toneladas das missões à Lua. E é aí que
a hibernação enta. Ela permite viajar com muito
menos coisas, em naves bem menores e mais leves.
Na Estação Espacial Internacional, os astonautas
dormem em cabines com sacos de dormir presos às
paredes. Não é nenhum luxo. Mas parece uma mansão
perto do “habitáculo” imaginado pela SpaceWorks,
que é 75% menor, pesa 50% a menos, e também gas-
ta menos energia: precisa de apenas 30 kW para se
manter, conta 50 kW das cabines da ISS. Além disso,
seu consumo de oxigênio é 75% menor, e o de água
é 50% mais baixo.
Essas contas batem com as estmatvas da Euro-
pean Space Agency (ESA), que em 2018 publicou um
artgo sobre hibernação espacial. Segundo a agência,
o uso dessa técnica numa missão a Marte reduziria
em 42,5% a quantdade total de suprimentos neces-
sários e também ajudaria a proteger os astonau-
tas da radiação cósmica, que pode causar câncer e
é um problema sério em missões longas. “Estdos
em animais mostaram que a hibernação aumenta a

Retomada das missões tripu-
ladas para a Lua e construção
da Deep Space Gateway,
estação espacial da qual
partiriam missões a Marte.

Construção da Deep
Space Transport, uma
estação de habitação.
Astronautas viveriam nela
por 400 dias para testá-la.

Realização de viagens
não tripuladas a Marte,
para levar equipamen-
tos e testar decolagens
do solo marciano.

Quatro astronautas vão até
Phobos, principal lua de Marte
(pois, de lá, é mais fácil voltar).
Seis anos depois, uma missão
pousa no planeta vermelho.

Etapa 2
TesTes de sobrevivência
2025 - 2032

Etapa 3
um novo começo
2033 - 2039

proteção conta radioatvidade”, afirma a ESA. Isso
supostamente acontece porque a hibernação desace-
lera a reprodução celular (que é vulnerável a mutações
causadas por radiação).
A SpaceWorks se diz pronta. “Poderíamos começar
a operar em pouco tempo, enviando missões para
Marte com quato a seis integrantes”, afirma John
Bradford. A empresa jura que seu sistema de hiber-
nação poderia manter seis pessoas no espaço por
até 900 dias com apenas 1,6 tonelada de alimentos
e medicamentos, conta as 13,1 toneladas necessárias
numa cápsula comum. Ela também estda cenários
ainda mais radicais. Em 2015, apresentou um protó-
tpo de 10x8,5 metos, que seria capaz de tansportar
48 astonautas numa evental missão de colonização.
Mas a Nasa vê a ideia com cautela. Em 2015,
o biólogo Yuri Griko, que dirige o departamento de
biociências da agência, pediu para fazer uma experiên-
cia (ele queria fazer voos experimentais com animais
em hibernação), e não obteve autorização. Em 2016,
a Nasa assinou um novo contato com a SpaceWorks
para que a empresa contnue as pesquisas – mas não
permitu que ela realizasse um teste de hibernação
forçada em porcos, como desejava. Ou seja: a hi-
bernação espacial vai demorar. Mas pode se tornar
realidade um dia. E atavessar o Sistema Solar sem
sentr, com a leveza de quem acaba de acordar, terá
deixado de ser apenas um sonho. S

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Fonte

In-Space Transportation for Nasa’s Evolvable Mars Campaign.
Thomas K. Percy e outros. Nasa, 2015.

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