FEVEREIRO QUATRO RODAS 113
Mas na GTC4Lusso você pode. E não
tenha dúvida: só tem uma resposta.
A versão T tem um V8 biturbo
que produz 612 cv, ou seja, 78 cv
menos do que o V12. Mas como a T é
mais leve, o desempenho de ambas
é quase igual. Sim, o V12 tem um
som ligeiramente mais bonito no li-
mite da faixa de rotações, mas o V8
consome menos. E tem mais...
A versão V12 não é um carro
empolgante de dirigir. Ela passa
uma sensação – ouso dizer – de ser
um pouco desajeitada. Não é como
tentar colocar um cadáver gordo
no porta-malas de um Ford Focus,
mas também não é como contem-
plar uma pena sendo levada por
uma suave brisa de verão.
Já a V8 é simplesmente maravi-
lhosa. Ao contrário da V12, ela não
parece desajeitada. Você vira o vo-
lante e sente imediatamente aquela
delicadeza Ferrari, uma sensação
que nenhuma outra marca consegue
igualar. Parte disso é consequência,
eu sei, da direção nas quatro rodas,
que eu acho um pouco tola – ela
deixa os passageiros do carro enjo-
ados e oferece ganhos de velocida-
de desprezíveis –, mas outra parte é
resultado da ausência da tração nas
quatro rodas. As rodas dianteiras
podem apenas fazer o trabalho de-
las. Eu adorei dirigir este carro.
E ela derrapa? Ela se agarrará à
vida, mesmo se estiver despencan-
do água do céu e você estiver diri-
gindo como um louco com as calças
pegando fogo? Sim, é claro. Eu des-
liguei o controle de tração e provo-
quei uma saída de traseira em uma
rotatória e, embora tenha parecido
que eu estava fazendo drifting em
um navio, ela se mostrou tão con-
trolável quanto um Subaru Impreza.
Mas é claro que a GTC4Lusso T
não é para isso. Você nunca a verá
em um track day ou rasgando por
avenidas desertas às 2 da manhã. É
um carro espaçoso. Tem até um lar-
go parapeito de janela no qual você
pode descansar seu braço enquanto
passeia. E você vai mesmo passear,
porque ela é silenciosa, civilizada
e tem uma suspensão alegremente
macia. Você até pode chamá-la de
sossegada. E ninguém tinha falado
isso de uma Ferrari até agora.
O banco do motorista é um lugar
agradável para ficar. Tudo parece ter
sido montado com esmero. Ela tam-
bém é divertida. Como opcional, a
Ferrari instala à frente do passageiro
dianteiro uma segunda tela, con-
figurável de acordo com seu gosto.
Tocar músicas. Ver a rotação do mo-
tor. Conferir a velocidade. A única
coisa que falta é um karaokê.
O motorista conta com o mesmo
tratamento, mas infelizmente não
conseguirá usar qualquer um dos
recursos, pois os controles, jun-
tamente com aqueles dos faróis,
limpadores de para-brisa e setas
de direção, estão todos no volan-
te. Então, ele vai dirigir gritando
“Onde está a p... do botão do fa-
rol?” Colocar botões na única parte
do interior do carro que se move é
uma ideia idiota, porque quer dizer
que nada está onde você deixou. E
eu não me importaria, mas a Ford
fez exatamente a mesma coisa no
seu novo supercarro GT. Loucura.
E para piorar as coisas na Ferra-
ri – quando você estiver colocando
seus óculos para encontrar o botão
certo, que agora está à esquerda por-
que você está fazendo uma curva –
não estará olhando o velocímetro...
Todo carro tem um ritmo no qual
ele se “acomoda” melhor na rodo-
via, quando você não está concen-
trado. Um Porsche 911, por razões
que ninguém conhece, fica mais
feliz a cerca de 90 km/h. Um Mini
Cooper está no seu melhor em torno
de 160 km/h. Já a Ferrari se acomo-
da a 190 km/h. O que quer dizer que
você precisa ficar bem atento ou vai
acabar na traseira de um ônibus.
Mas isso é só um detalhe. E em
um país iluminado em que veloci-
dade não seja visto como um crime,
não é problema. O único problema
real que eu consegui encontrar foi
com os freios. Sendo de cerâmica
de carbono, eles não funcionam de
verdade quando estão frios.
Mas isso não foi o suficiente para
eu me preocupar, pois graças à nova
versão V8, muito melhor, o assalto
da GTC4Lusso ao meu bom senso
subiu uma marcha. Eu realmente
amaria ter um carro desses. Por uma
única razão: ele é maravilhoso.
Colocar tantos
botões em algo que
se move (volante) é
uma ideia idiota. Quer
dizer que nada está
onde você deixou
Seu motor V8 3.9 biturbo de 612 cv produz 78 cv a menos
CLARKSÔMETRO
Ferrari GTC4Lusso T
Preço: 200.235
libras esterlinas
(R$ 965.000)
Motor: 3.855 cm
3
,
V8, biturbo, gasoli-
na; 610 cv a 7.500
rpm; 77,4 mkgf a
3.000 rpm
Aceleração: 0 a 100
km/h em 3,5 s
Velocidade
máxima: 320 km/h
Peso: 1.865 kg
Nota do Jeremy:
++++