18 | ípsilon | Sexta-feira 1 Novembro 2019
Na Art Toronto
do Canadá
artistas, galerias e
o ecossistema da
arte em Portugal
estiveram em
evidência.
Vítor
Belanciano
em Toronto
N
uma coisa, portugueses e
canadianos estão de acordo.
Há em Portugal artistas esti-
mulantes. O panorama que
os envolve, ao nível de gale-
rias, instituições ou eventos,
é dinâmico. E existe um interesse
genérico sobre o país que gera curio-
sidade. O que falta? É preciso activar
e dar a conhecer mais. E não é só o
presente. Existe um passado com
potencial para ser comunicado.
Dessa forma o futuro poderá ser as-
segurado. Quem o diz é Mia Mielsen,
a curadora e directora da 20º edição
da Art Toronto, a mais importante
feira de arte canadiana, que decor-
reu no fim-de-semana e que teve
Portugal como país em foco.
“O que está a acontecer em Portu-
gal, na arte contemporânea, parece
muito excitante. Há uma visão muito
progressista e isso percebe-se por
aquilo que se vê aqui, com trabalhos
que denotam uma visão internacio-
nal, levantando questões políticas e
interrogando onde estamos social-
mente, sendo ao mesmo tempo cui-
dados formalmente. Foi por isso que
escolhemos Portugal. Existe algo que
é diferente, mas simultaneamente
familiar. A ideia que fica é que existe
uma grande capacidade e o futuro só
pode vir a ser ainda melhor, portanto,
estão avisados”, exclama, sorrindo:
“Vamos ficar de olho na arte portu-
guesa!”
Em Toronto estiveram cinco gale-
rias (Kubik, Duarte Sequeira, Fonseca
Macedo, 3 + 1 e Uma Lulik), o festival
Walk&Talk e o centro de arte e inves-
tigação Carpem Diem, para além de
terem acontecido palestras (Rita Fa-
biana, Luiza Teixeira de Freitas, Ân-
gela Ferreira ou Carlos Bunga) e uma
colectiva, com curadoria do ex-di-
rector de Serralves, João Ribas, que
também é da opinião que “há enorme
interesse por Portugal e pela sua cul-
hoje em Lisboa, Porto e Açores, na-
quilo que faço aqui é especial”, con-
fessa, elencando outras razões para
o interesse sobre Portugal. “Joana
Vicente é a directora do Toronto In-
ternacional Film Festival, a vice-pre-
sidente da câmara é a luso-descen-
dente Ana Baião e nos últimos anos,
coleccionadores e artistas estiveram
em Portugal e ficaram curiosos.”
Entre essas razões está também o
facto de uma das mais reconhecidas
galerias de Toronto e do Canadá per-
tencer a outro luso-descendente.
Falamos da Daniel Faria Gallery, si-
tuada no bairro Little Portugal, onde
a comunidade portuguesa sempre
residiu, embora hoje essa realidade
esteja disseminada, com muitos a
venderem as suas casas porque a
zona se tornou apetecível. Isso
mesmo se constatou num périplo
pela área, onde a curadora Luiza Tei-
xeira de Freitas desenvolveu um pro-
jecto nas montras de algumas lojas
(obras de Fernanda Fragateiro, Luís
Lázaro Matos ou Jorge Queiroz). E é
assim que, ao lado de restaurantes
como Alex Rei dos Leitões, se vislum-
bram galerias como a de Daniel Faria.
“Os meus pais emigraram há mais de
50 anos e eu nasci aqui”, diz-nos, es-
clarecendo que a galeria tem oito
anos de vida.
“O centro financeiro do Canadá é
Toronto e é aqui que estão os colec-
cionadores e museus importantes”,
reflecte, argumentando que o mo-
mento actual da arte em Portugal o
deixa satisfeito. “Olha-se à volta e per-
cebe-se que as galerias são das mais
fortes que estão aqui. Sinto-me orgu-
lhoso, porque é difícil entrar num
mercado sem ninguém conhecer os
artistas ou galerias. Por outro lado, é
incrível como já não é apenas o eco-
turismo que chama as pessoas aos
Açores. A arte, através do Walk&Talk,
da Fonseca Macedo ou do Arquipé-
lago, também já o faz.”
Ao longo dos três dias quem não
parou foi João Ribas, continuamente
a fazer visitas, sempre esgotadas, com
muita gente curiosa perante a mostra
de arte portuguesa. “O propósito foi
relacionar as galerias, daí ter esco-
lhido artistas representados por aque-
las aqui presentes, com uma ideia de
panorama mais global, com várias
gerações, geografias e tendências re-
tractadas.” A ideia foi propor articu-
lações, ligações ou desvios. “É por
isso que temos aqui obras do Hernâni
Baptista e do Mauro Cerqueira, am-
Canad
estam
arte p
bos do Porto, que embora traba-
lhando tendências díspares operam
em espaços alternativos, o Sismógrafo
e Uma Certa Falta de Coerência.” Ou
fazer a ligação entre três galerias, no
caso da Flávia Vieira com a Kubik, a
Rita Ferreira e a Claire de S. Coloma
com a 3 + 1, e a Sandra Rocha com a
Fonseca Macedo, para evidenciar o
contributo desta nova geração de ar-
tistas e de galeristas.”
Outras ligações são feitas entre Sil-
vestre Pestana, “figura importante e
pioneira em Portugal, mas pouco co-
tura, num reconhecimento de que a
produção actual é vigorosa e com
uma linguagem reconhecível global-
mente.”
Mas existe também um enquadra-
mento mais genérico que permite
perceber o interesse da Art Toronto
por Portugal. “Existe aqui uma grande
comunidade portuguesa e esta pre-
sença é uma forma natural de conec-
tar aquilo que acontece aqui, porque
já existe uma relação fluída entre al-
guns artistas daqui, como Nadia Be-
lerique, e galerias e o festival
Walk&Talk, onde esteve este ano.”
Di-lo Mia Mielsen, directora de uma
feira que decorreu na Toronto Metro
Convencion Centre, na baixa da ci-
dade, congregando 120 expositores,
sendo 80% canadianos e 20% inter-
nacionais, e por onde passam ao
longo de três dias 130 mil visitantes.
Um dos exemplos de segunda ge-
ração de emigrantes, já nascidos no
país, é o de Rui Amaral, um dos mais
respeitados curadores do Canadá e
um dos entusiastas do destaque de
Portugal na feira. “A vibrante comu-
nidade portuguesa, a percepção de
que existe um renascimento cultural
em Portugal, a nova centralidade de
Lisboa para as artes, a deslocação
desse interesse também a transferir-
se para os Açores, o que é incrível por
causa da presença da diáspora aço-
riana aqui, tudo isso, contribuiu para
este interesse. Este era o momento
para Portugal ser aqui destacado.”
Nos últimos tempos, diz, vários
portugueses expuseram individual-
mente em Toronto (Vasco Araújo,
Pedro Cabrita Reis, Grada Kilomba) e
no próximo ano seguir-se-á Carlos
Bunga, com curadoria do próprio Rui
Amaral, no Museu de Arte Contem-
porânea de Toronto, situado numa
zona industrial, e que exibe agora
uma magnífica colectiva (Age Of You).
“Conseguir integrar o que se passa