Público - 01.11.2019

(Ron) #1
ípsilon | Sexta-feira 1 Novembro 2019 | 21

futurista ambiental, que iria marcar
toda uma linhagem vindoura, de
Sevdaliza a Kelsey Lu, de Sudan Ar-
chives a Lafawndah, de Conan Osiris
a Pedro Mafama.
Nas novas canções há vagas obses-
sivas de som e elementos electrónicos
retorcidos, um fado cósmico, ou mú-
sica pós-humana com qualquer coisa
de religioso, que não receia as pausas,
os silêncios. Como já havia aconte-
cido na estreia, rodeou-se de cúmpli-
ces — a co-produção executiva per-
tenceu a Nicolas Jaar — como Arca,
Daniel Lopati (Oneothrix Point Ne-
ver), Future, Soundwave, Skrillex,
Koreless ou Benny Blanco. Apesar das
inúmeras colaborações, o controlo
artístico nunca lhe foge e são os pró-
prios cúmplices a assumi-lo, como
confessava recentemente Jaar.
Do ponto de vista da estrutura, as
canções parecem menos robóticas,
mas as escolhas melódicas-harmóni-
cas continuam a ser muito diferentes
do que está em voga. Em Home with
you aborda a relação com o mundo
exterior, com uma voz gutural decla-
rando que “The more you have the
more that people want from you / More

you burn away the more that people
want from you”. Em Cellophane volta
ao assunto (“They’re waiting / They’re
watching us / They’re hating”), numa
emocional balada para piano, am-
biente digital e voz, onde aborda
sexo, poder e privacidade. Por vezes
a voz parece evocar estilos corais, a
ópera ou até cânticos gregorianos,
como em Mary Magdalene, enquanto
em Holy terrain (com a voz proces-
sada do rapper Future), talvez o tema
mais convencional, descreve o par-
ceiro ideal, com voz terna e fantasista,
num tom que evoca Kate Bush.
O som é quase sempre tridimen-
sional, como em Day bed ou Sad day,
esta última com produção de Daniel
Lopatin, camadas de orquestrações,
percussões e efeitos envolvendo pa-
lavras sobre depressão e perda
(“Aching is my laughter / Busy is my
pastor”). Ao longo de todo o disco
será assim, alicerçando aquilo que já
se conhecia dela, mas ao mesmo
tempo expandindo-o, abrindo novas
portas, por onde entram aquela que
outrora foi conhecida como Tahlia
Barnett e que agora é FKA Twigs, ou
seja, Maria Madalena.

gs


Pecadora,
prostituta,
impura, santa,
fiel ou
discípula mais
estimada de
Jesus: a vida
e história
de Maria
Madalena
seduziram
Tahliah
Barnett

Nas novas canções


há vagas obsessivas


de som e elementos


electrónicos


retorcidos, um fado


cósmico, ou música


pós-humana com


qualquer coisa de


religioso, que não


receia as pausas,


os silêncios


Magdalene
FKA Twigs
Young Turks,
distri. PopStock

mmmmm


MATTHEW STONE
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