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E
m relação a este assunto, existem duas
posições completamente opostas, sustentadas
pelo senso comum. De acordo com a primeira
posição, precisa de análise uma pessoa que
sofreu um trauma grave, passou por uma
situação de sofrimento muito grande e não é capaz de
resolver o problema sozinha. Segundo essa visão, a análise
seria uma espécie de terapia auxiliar para a pessoa com
uma constituição mais frágil: fazer uma análise seria sinal
de fraqueza, incompetência para lidar com as dificuldades
da vida, até mesmo veleidade, futilidade. Dessa posição,
surgiria aquela expressão segundo a qual só possui certos
sofrimentos quem pode se dar ao luxo para tanto — os
outros, os que trabalham, os que encaram a vida de frente,
não teriam tempo para isso.
Na direção oposta, está a posição que afirma: todo
mundo pode se beneficiar de uma análise. Conhecer a
si mesmo sempre pode nos ajudar a viver melhor, a nos
tornarmos pessoas melhores, a lidarmos melhor com
nós mesmos e com os outros. Uma pessoa que passa por
uma análise é mais capaz de suportar as dificuldades da
vida do que outra que nunca passou; é mais capaz de
lidar com as frustrações e com os desafios. Em suma,
tem estratégias que a tornam mais adaptada à vida em
sociedade, tornando-se menos vítima de seus impulsos
imediatos.
Como costuma ocorrer com o senso comum, essas
duas posições guardam alguma relação com a verdade,
sem esgotá-la, mas também sem deixar de mascará-la um
pouco e mesmo desvirtuá-la. Cada uma tem um pouco do
que se trata numa verdadeira análise, mas também tem
um tanto de mistificações.
Para resolvermos a questão, diremos o seguinte: uma