24
Sigmund Schlomo Freud
análise tem o objetivo de uma cura. Nesse sentido, não
é tão diferente de uma terapêutica. A diferença aparece
num aspecto muito sutil e que torna a psicanálise uma
disciplina tão complicada e controversa: aquilo que se cura
não é aquilo para o que se busca uma cura.
Expliquemos. Uma análise em que se busca simplesmente
o autoconhecimento não faz o menor sentido. Para o
autoconhecimento, podemos ler os poetas, os sociólogos,
os filósofos e todos os grandes pensadores; podemos nos
envolver amorosamente com alguém, podemos ter filhos
ou cuidar de nossos pais idosos; podemos nos entregar
com todas as forças a uma amizade profunda e produtiva.
Tudo isso nos leva ao autoconhecimento. Uma análise
não deixa de passar, no seu decurso, por alguns aspectos
de todas essas relações e por isso também ela pode trazer
algum autoconhecimento, às vezes um autoconhecimento
bastante profundo, mas não é essa a sua meta. Sua meta,
o motivo pelo qual alguém pode procurar uma análise e
o motivo pelo qual faz sentido aceitar um paciente em
análise é que essa pessoa esteja enfrentando algum tipo
de sofrimento.
Portanto, a pessoa procura uma análise para curar um
sofrimento. E por que ela faria isso? Por que uma análise,
em vez de uma terapia medicamentosa? Por que não um
médico ou um comportamentalista? Porque, para essa
pessoa, seu sofrimento não provém de um acaso: essa
pessoa acredita que seu sofrimento tem um sentido. Se o
seu organismo sofre, se o seu comportamento se desvia, ela
vê nisso tudo apenas a consequência, sintomas superficiais
de uma causa secreta: um sentido que sua doença carrega.
Sua procura por uma análise vem, portanto, nessa direção:
ela quer desvendar qual é o sentido dessa doença, que
segredo ela carrega ou esconde. Mais do que isso, acredita