36
Sigmund Schlomo Freud
É interessante notar que a Interpretação dos
Sonhos é um título que remonta aos velhos manuais,
encontrados em todas as épocas, que atribuíam aos
sonhos um sentido e consideravam a atividade de lê-
los como algo essencial, prudente, até mesmo sagrado.
Grandes líderes no mundo inteiro e ao longo da história
haviam procurado adivinhos, curandeiros, sábios de
todo tipo, a fim de que interpretassem seus sonhos. Eles
eram tidos como mensageiros, oráculos, premonições;
de certa forma, os próprios sonhos eram considerados
interpretações de tudo que havia de enigmático no
mundo e que por meio deles adquiria algum sentido.
O livro de Freud, assim, resgata essa tradição, na
medida em que atribui aos sonhos um valor e um papel
essencial na maneira como nos colocamos no mundo.
Entretanto, afasta-se dessa tradição, aproximando-se
daquela mais científica, a mesma que insistia ainda
na ausência de significado nos sonhos, ao estabelecer
as regras pelas quais eram construídos e os elementos
comuns aos sonhos em geral, sua razão de ser e a
maneira como se articulavam com o resto da psique
humana.
O que Freud buscava nos sonhos, portanto, não era
algum segredo escuso, sujo, oculto da consciência, que
tornasse uma pessoa doente. Se, como de fato ocorria,
encontrasse nesses sonhos elementos desagradáveis,
pensamentos repreensíveis, mesmo imorais, coisas que
não aceitaria caso fossem pensadas conscientemente,
sabia, entretanto, que tal era uma ocorrência normal:
“O que Freud buscava nos sonhos não era algum
segredo escuso. Se encontrasse nesses sonhos
elementos desagradáveis, mesmo imorais, sabia que
tal era uma ocorrência normal.”