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Sigmund Schlomo Freud
fome, espera que sua fome seja satisfeita. E ela o é, pelo menos
num número razoável de vezes, cedo ou tarde. Entretanto, o
psiquismo do bebê não está preparado, a princípio, para lidar
com a ausência dessa satisfação. O princípio de prazer exige que
a agitação produzida pela fome seja de alguma forma aplacada.
É por causa disso, afirma Freud, que a criança, enquanto não é
materialmente satisfeita, alucina essa satisfação: alucina o peito
que vai lhe dar de mamar e continua alucinando até que isso
aconteça. Para o psiquismo dessa criança, não há diferença
alguma entre a satisfação real e a satisfação alucinada: toda
sua representação da realidade se dá por meio do princípio
de prazer.
Logo, podemos observar que um ser humano não tem
muito futuro se permanece com uma configuração psíquica
assim limitada. É preciso que ele tenha alguma forma de
estabelecer alguma diferenciação entre a satisfação real e a
alucinada, é preciso que reconheça a realidade. Nesse ponto,
diz Freud, é que a criança, após certo número de satisfações
mais ou menos completas, ou seja, nunca inteiramente
completas, mas também não totalmente ausentes, aprende a
criar uma representação psíquica simbólica, separando aquilo
que está presente daquilo que está ausente. Freud chamou isso
de “princípio de realidade”.
O princípio de realidade
O princípio de realidade, então, é o que permite à
criança – e posteriormente ao adulto – adiar a experiência
de satisfação, conformando-se com as condições materiais
em que se acha, eventualmente possibilitando também que
produza movimentos na direção dessa satisfação. É assim que
a criança pode, a partir de certo ponto, não apenas aguardar
que o peito seja colocado em seus lábios para que possa se