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Sigmund Schlomo Freud
que não são nossos.
Entretanto, nem todos os sonhos se explicam dessas
maneiras. Isso é o que nos traz à questão enfrentada por Freud
com a chegada da Guerra. Existem sonhos que efetivamente
não escondem um desejo ambíguo, ou um desejo claro,
inequívoco, escondido atrás de um conteúdo manifesto. Há
sonhos que são, por exemplo, a repetição de um trauma. Foi
isso que Freud verificou, ao tratar os chamados neuróticos de
guerra, soldados ou trabalhadores do front que repetiam em
seus sonhos experiências traumáticas, experiências acontecidas
e totalmente afastadas de qualquer desejo. Como isso poderia
acontecer?
De acordo com o princípio de prazer, não poderia. O
princípio de prazer deveria afastar essas experiências, evitando,
assim, a agitação da psique, com a finalidade de manter o
repouso prazeroso. O princípio de realidade também não tem
interesse em repetir tais experiências, já que são passadas e
não são capazes de aproximar o Eu da satisfação de nenhum
desejo ou prazer: repetir um trauma não nos afasta dele, mas
nos aproxima; não apazigua uma excitação, mas a produz. Por
que, então, isso aconteceria?