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Sigmund Schlomo Freud
na verdade, com o nosso “Cadê?... achou!”, com que nos
divertimos com as crianças bem pequenas.
Freud identificou, nesse movimento repetitivo, duas coisas
importantíssimas, que mudaram a história da psicanálise
para sempre. É claro que tal não teria ocorrido se ele não
estivesse voltado para a problemática da repetição com que
havia se deparado nos neuróticos de guerra. Lembramos que
a pergunta que rondava sua mente era: por que repetem eles
experiências traumáticas se isso está em completo desacordo
com o princípio de prazer que deveria reger sua economia
psíquica?
A repetição do movimento de desaparição e reaparecimento
do carretel através da cortina fez Freud lembrar-se de sua
questão. Percebeu, ali, que aquilo que seu neto repetia, de
maneira prazerosa, era, na origem, um trauma: a separação
e posterior reaparecimento de sua própria mãe. De fato, essa
é uma das primeiras experiências traumáticas por que passa
toda criança. Aquele mesmo ser que a supria de todos os afetos
e necessidades, ao ponto mesmo de confundir-se com ela a
princípio, torna-se de repente alguém independente, que vem
e vai à vontade, podendo faltar, podendo não estar disponível,
deixando-o só. Leva algum tempo até que o bebê se acostume
a essa flutuação e mesmo crianças maiores não são imunes às
impressões desse primeiro trauma: lembremos que algumas
crianças, ao deixarem o lar para irem à escola pela primeira
vez, costumam chorar muito e às vezes é preciso deixá-las à
força, tal é a dificuldade de se separarem dos pais.
A pergunta de Freud, então, se volta para aquele pequeno
ser, certamente não um neurótico de guerra, mas ao contrário,
alguém que elaborava com uma visível expressão de prazer
aquele trauma anterior. Freud se deu conta, então, de que a
estratégia de que o psiquismo se valia, naquele caso, era muito
simples: ao repetir a experiência traumática, representando-a