– Na televisão. Tinhas solucionado aquele caso em Sydney.
– Hm. Presumo que isso tenha causado uma grande impressão.
– Só me lembro de que me senti irritada por teres aparecido como um herói,
apesar de teres falhado.
– Oh.
– Nunca chegaste a levar o assassino a tribunal, mataste-o a tiro.
Harry fechou os olhos e pensou como lhe saberia bem a primeira passa que
desse no seu próximo cigarro. Deu uma palmadinha no peito para ver se o
maço de tabaco se encontrava no bolso interior do casaco, e tirou um pedaço
de papel dobrado para mostrar a Beate.
– O que é isso? – perguntou ela.
– A folha em que Grette estava a rabiscar.
– «Um Dia Maravilhoso» – leu Beate.
– Ele escreveu-o treze vezes. Um pouco parecido ao The Shining , não é?
- The Shining?
– Tu sabes, o filme de terror. Stanley Kubrick. – Lançou-lhe um olhar pelo
canto do olho. – Aquele onde Jack Nicholson está sentado num hotel a
escrever a mesma frase repetidas vezes.
– Não gosto de filmes de terror – disse ela em voz baixa.
Harry olhou para ela. Estava prestes a dizer alguma coisa, mas depois achou
que era melhor continuar calado.
– Onde é que moras? – perguntou ela.
– Em Bislett.
– Fica a caminho.
– Hm. De quê?
– Oppsal.
– Sim? Onde em Oppsal?
– Vetlandsveien. Mesmo junto à estação. Sabes onde fica Jørnsløkkveien?
– Sim, há uma grande casa de madeira amarela no centro.
– Exacto. É aí que eu vivo. No primeiro piso. A minha mãe vive no piso
térreo. Cresci naquela casa.