irmão. Não tenho a morada dela. Duvido que tenha uma.
– Disse a Ivarsson que o motivo por que a família não foi ao funeral, foi por
ela ter lançado a vergonha sobre eles.
– Disse? – Harry viu o divertimento a espalhar-se pelos olhos castanhos de
Raskol. – Acreditaria em mim se lhe dissesse que estava a mentir?
– Sim.
– Mas não estava. Anna tinha sido banida pela família. Já não existia para o
pai. Ele recusava-se a dizer o nome dela. Para evitar marime . Compreende?
– Provavelmente não.
Entraram na esquadra e pararam à espera do elevador. Raskol murmurou
qualquer coisa para si mesmo, antes de dizer em voz alta:
– Porque é que confia em mim, Spiuni?
– Tenho outra escolha?
– Tem-se sempre outra escolha.
– Mais importante é porque é que você confia em mim. A chave que lhe dei
pode ser igual àquela que lhe enviaram do apartamento de Anna, mas posso
não a ter encontrado na casa do assassino.
Raskol sacudiu a cabeça.
– Compreendeu-me mal. Não confio em ninguém. Apenas confio no meu
instinto. E esse diz-me que você não é um homem estúpido. Todas as pessoas
têm algo para o qual viver. Algo que lhes pode ser tirado. Você também. É só
isso.
As portas do elevador abriram-se e eles entraram.
Harry estudou Raskol na penumbra. Ele estava sentado a ver o vídeo do
assalto com as costas muito direitas e as palmas pressionadas uma contra a
outra, sem qualquer expressão. Nem mesmo quando o som distorcido do tiro
encheu a Casa da Dor.
– Quer voltar a vê-lo? – perguntou Harry, quando chegaram às últimas
imagens do Executor a desaparecer no cimo da Industrigata.
– Não é necessário – disse Raskol.
– Então? – perguntou Harry, a tentar não soar entusiasmado.
– Tem mais alguma coisa?