Era o dia de folga de Weber, mas Harry insistira ao telefone que tinham de
falar imediatamente. Sabia que Weber se sentia relutante em receber visitas
em casa, mas não o podia evitar.
– Pedimos ao agente de serviço na Krimteknisk para comparar as
impressões digitais encontradas na garrafa de Coca-Cola com as impressões
de assaltos anteriores que se suspeita que Lev Grette tenha executado – disse
Beate. – Nada.
– Como já disse – replicou Weber, a verificar se a tampa da cafeteira estava
colocada de modo correcto –, nunca se encontraram impressões digitais de
Lev Grette em nenhum cenário de crime.
Beate folheou as suas notas.
– Concordas com Raskol que Lev Grette é o nosso homem?
– Bem, porque não? – Weber começou a servir o café.
– Porque nunca recorreu à violência em nenhum dos assaltos de que era
suspeito. E porque ela era sua cunhada. Assassinar para não se ser
reconhecido, não é um motivo muito fraco para se matar alguém?
Weber parou de servir o café e olhou para ela. Lançou um olhar intrigado a
Harry, que encolheu os ombros.
– Não – disse ele. E continuou a deitar o café nas chávenas. Beate corou
vivamente.
– Weber pertence à escola clássica de detecção – disse Harry, num tom
quase apologético. – A sua opinião é que, por definição, o assassínio exclui
motivos racionais. Apenas existem níveis de motivos confusos, que por vezes
se podem assemelhar à razão.
– É assim que as coisas se processam – disse Weber e pousou a chávena.
– Pergunto-me – disse Harry – porque é que Lev Grette saiu do país, se a
polícia não tinha quaisquer provas contra ele.
Weber sacudiu um pouco de pó invisível do braço da poltrona.
– Não tenho a certeza.
- A certeza?
Weber apertou a asa de porcelana fina e frágil da chávena, entre o polegar
grande e gordo e um indicador manchado pela nicotina.
– Na altura correram alguns rumores. Nada no qual acreditássemos.